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OPINIÃO: APMIU faz teatro ao anunciar reabertura da emergência do Hospital de Ubaíra

"Tiro saiu pela culatra"?

O novo capítulo da novela envolvendo o hospital de Ubaíra acaba de ser publicado e tem ares de peça teatral. A novela “Emergência” parece brincar com a saúde e ter desprezo pelo povo que paga a conta por meio de impostos.

Reabertura da emergência

Na manhã deste domingo (9), os funcionários que haviam sido dispensados foram convocados às pressas para o trabalho, muitos sequer conseguiram chegar. O mais intrigante é que a decisão ocorre justamente em um dia em que o serviço de urgência e emergência foi necessário e o hospital não foi protagonista.

Feridos por tiros precisaram de atendimento médico

Na madrugada de hoje, uma investida criminosa resultou em um morto e dois baleados. O trabalho de estabilização das vítimas e transferência ocorreu por meio do Centro de Saúde, improvisado pela prefeitura.

Nota

Na última semana de maio, a direção do hospital, que é filantrópico, gerido pela Associação de Proteção à Maternidade e à Infância de Ubaíra (APMIU), por meio da empresa S3, emitiu um documento informando que fecharia a emergência durante o mês de junho. Coincidência ou não, este é o período de realização da maioria dos eventos no ano.

Em nota emitida a este site, a S3 reconheceu dívidas que beiravam R$ 4 milhões, risco de colapso financeiro e necessidade de mais investimentos por parte da prefeitura.

O documento indicava que a decisão de fechamento era para reestruturação. E ainda sinalizava que o hospital já havia pedido à SESAB a mudança de status da instituição, numa clara indicação de que somente desejavam continuar com as cirurgias eletivas.

Emergência improvisada

A decisão se confirmou na segunda-feira (3), a emergência foi fechada. Diante do ocorrido, a prefeitura decidiu de forma emergencial abrir uma emergência improvisada no Centro de Saúde.

No dia seguinte, o prefeito Lúcio Monteiro foi a Salvador e, após reuniões na Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (SESAB), o gestor baixou um decreto requisitando o anexo ao hospital para reabrir a emergência, agora sob gestão da Secretaria de Saúde do município.

Conforme Jamile Barbosa, nos primeiros dias de funcionamento, até um parto normal foi realizado no Centro de Saúde, mostrando a capacidade técnica do local.

Numa parceria com a Associação de Proteção à Maternidade e à Infância de Mutuípe (APMIM), os internamentos seriam direcionados ao Hospital e Maternidade Clélia Rebouças. Os demais procedimentos de alta complexidade passariam pela central de regulação.

Decreto e controle da emergência

Na quinta-feira (6), a prefeitura ocupou o anexo onde funcionava a emergência e confirmou denúncias da população de que a APMIU estava retirando equipamentos.

Para a abertura da porta principal, foi necessário o acionamento de um chaveiro. Um embate também se instalou com relação à sala de Raio-X, que não foi entregue e deve ser alvo de disputa na justiça.

Com ares de revolta com a decisão, um representante da APMIU apareceu na segunda porta, abriu e entregou o prédio com macas, armários, cilindros e outros. Questionado sobre o que estava faltando, ele deu respostas curtas e grossas, disse que não falava com a imprensa e foi embora.

Desrespeito a população

A APMIU parece tratar a situação sem respeito a alguns princípios, entre eles o da publicidade. É certo que todas as vezes que este site pediu explicações à S3, notas foram enviadas, algumas com argumentos que não convencem, porém nunca se colocaram à disposição para dar entrevista e dessa forma responder questionamentos.

Com todo o respeito que a instituição merece, principalmente por ter mais de 70 anos prestando serviço não só a Ubaíra, mas à população do Vale do Jiquiriçá, não parece respeitosa a decisão de fechar as portas de emergência da forma que fez, principalmente por ter um contrato com a SESAB.

A decisão de reabrir do jeito que aconteceu mais parece com um circo, ou peça teatral, onde um “soberano”, o mesmo que se negou a dar entrevista, aparece numa porta anunciando a boa nova, abrindo os braços como um Cristo.

Motivação política

A reabertura confirma as especulações do prefeito de que a decisão de fechar tinha motivações políticas. A impressão que ficou foi que o “tiro saiu pela culatra” e desta forma era melhor voltar atrás.

Ao dizer que vai reabrir a emergência, o representante do hospital exalta o deputado federal Jorge Solla (PT), uma liderança da saúde que desde o início do mandato tem ajudado instituições filantrópicas. O parlamentar inclusive já direcionou diversas emendas ao Hospital de Ubaíra, mas a crise não se estanca.

Emendas de Jorge Solla.
Emenda de Jorge Solla. — reprodução

Emendas de Solla

Esta coluna fez uma pesquisa junto ao Governo Federal e descobriu que somente da União, desde 2022 já são cinco emendas, totalizando quase 1 milhão de reais.

A primeira em 24/11/2022, R$ 100.713,00. No início de 2023, R$ 100.589,00, em agosto do mesmo ano, novamente R$ 100.068,00. Em novembro do ano passado mais R$ 200.836,00, e em 7/05/2024 mais R$ 207.669,00. Todos esses valores são para a compra de equipamentos.

Convênios hospital de Ubaíra
Emenda de Jorge Solla — reprodução

Somente o primeiro convênio foi pago até então, os demais carecem de regularização de documentação e conta para depósito.

O último, do dia 7 de maio, que parece ter motivado a decisão de reabrir, ainda está em fase embrionária.

O povo merece respostas

A pergunta que fica: se é para compra de equipamentos, como esse dinheiro possibilita a reabertura? Como vão prestar contas? E como vão pagar médicos, enfermeiros e outros funcionários, se o recurso tem outro fim?

Nos últimos anos, o hospital de Ubaíra foi acusado de diversas irregularidades. Houve quem reclamasse da falta de pagamento de salários, como ocorreu quando médicos denunciaram, bem como quando servidores, de forma anônima e com medo de represálias, disseram que estavam sem receber há vários meses ao longo de 2023. Houve ainda denúncias de fraude em licitação, feitas por um site no sul da Bahia.

O Hospital de Ubaíra precisa ser claro! Dizer quanto recebe da SESAB, como esse dinheiro é gasto, com o que e quem, bem como apresentar um plano de reestruturação. O hospital, que disse na semana passada que a prefeitura não ajudava em nada, hoje reconhece que plantões eram pagos pelo município, porém não disse quantos.

A secretária de saúde falou na quinta-feira que eram quase 15 plantões, pois inicialmente pediram os sábados e domingos, posteriormente as sextas e nos últimos dias até as quintas-feiras.

A APMIU também precisa revelar o valor da emenda destinada pelo deputado e qual a finalidade do recurso. Quando ele chegar, precisa dizer se o colapso financeiro foi sanado e se, de fato, é a emenda revelada por este site, no valor de 200 mil.

Convênio de maio hospital de Ubaíra
Convênio junto ao Ministério da Saúde, no mês de maio. — Reprodução

A reabertura da emergência parece milagrosa. Das duas, uma: ou não precisava fechar, ou o dinheiro apareceu do nada.

Somente desta forma ficará fácil entender que as decisões não estão sendo tomadas baseadas em política, para beneficiar alguém. Se a prefeitura erra, que ela seja cobrada; se ela ajuda, que seja reconhecida; e se há necessidade de mais recursos, que se peça mais, porém com a transparência e a participação da sociedade.

O Hospital de Ubaíra é financiado com dinheiro público! A instituição tem dono, mas a conta quem paga é o povo! Que merece respeito e não manipulação de quem quer que seja.

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