Cidades

“Quando FHC era presidente, tentamos encaixar um bocado de impeachment contra ele” diz Pinheiro

VALTER PINHEIRO - SÉRIOPinheiro deixou o PT após 33 anos filiado ao partido.

Walter Pinheiro, senador que está deixando o PT depois de 33 anos, deu uma entrevista ao jornal Valor Econômico.
Destaco seus principais apontamentos:
a) Dilma Rousseff cometeu estelionato eleitoral:
“De 2014 para cá, o programa que o governo executa é diferente daquele anunciado na eleição de outubro, pelo qual eu inclusive fui para a rua pedir voto.”
b) Dilma é incapaz de diálogo:
“Busquei em 2015 todo contribuir para fazer uma correção de rumo, mas o governo não ouve ninguém.”
c) Aumentar impostos é asfixiar trabalhadores:
“Em um cenário de crise sem precedentes, queda na arrecadação, fundos de participação de Estados e municípios [FPM e FPE] despencando, IPI em queda, acham que a solução é reintroduzir CPMF? Na prática, aprovar a CPMF hoje é tirar o oxigênio de quem conseguiu ficar de pé.”
d) Papel da Câmara no impeachment é político, com base legal:
“O cenário piorou consideravelmente. À parte da materialidade da denúncia, o que a gente tem na Câmara hoje é um julgamento na política. Todo mundo acha absurdo quando fala isso, mas o papel da Câmara é na política. Claro que tem de ter um motivo, exige-se legalidade. Mas o que agravou é a situação política e econômica. Esse dois fatores levaram a um processo externo de crítica ao governo.”
e) PT chama de “golpe”, mas já pediu impeachment por muito menos:
“Briguei contra o governo FHC no processo de privatizações. A marcha dos 100 mil que fizemos aqui na Esplanada dos Ministérios, quando eu era líder da bancada do PT, um dos pontos era o impeachment, sob a alegação de que ele havia cometido uma série de erros na economia.”
Repare: meros “erros na economia” – e isto, claro, na visão do PT – serviram de motivo para petistas pedirem o afastamento de FHC.
Como escrevi aqui em 4 de dezembro de 2015, “o mesmo ministro Jaques Wagner, que agora defende Dilma contra o impeachment, foi o deputado petista que pediu o impeachment do então presidente Itamar Franco, em 1994. O motivo, claro, era infinita e pateticamente menos grave que os de hoje”.
Wagner considerou falta de decoro “um presidente expor uma medida provisória à equipe de um dos candidatos a sua sucessão”. “É caso de impeachment”, bradou o petista.
Perto das irregularidades fiscais de Dilma apontadas pelo TCU; da falsidade ideológica ao esconder o rombo nas contas públicas para se reeleger; dos decretos de crédito suplementar criados sem autorização do Congresso; da omissão dolosa no assalto a Petrobras que resultou, só em 2015, no prejuízo recorde de R$ 35 bilhões; sem falar nas tentativas de obstrução de Justiça na nomeação de Lula para evitar sua prisão, na indicação do ministro Marcelo Navarro Dantas ao STJ para soltar Marcelo Odebrecht e na compra do silêncio de Delcídio do Amaral por meio do ministro da Educação(!) Aloizio Mercadante – perto de tudo isso, que ainda se soma à crise econômica sem precedentes, os motivos de Wagner eram simplesmente patéticos.
O PT apoiou, na verdade, 50 pedidos de impeachment contra FHC, Itamar e Collor. À exceção, claro, daquele que resultou no afastamento do suposto caçador de marajás – que depois virou aliado do PT, inclusive em esquema da BR Distribuidora -, os motivos eram de uma patetice sem tamanho.
Se você acha os petistas cínicos no poder, espere só atê revê-los na oposição.
f) Renan Calheiros teme que impeachment chegue ao Senado:
“Não dá para cravar de forma peremptória [que Dilma vai cair]. Mas é tão grave [a situação] que o presidente do Senado diz: ‘Espero que não chegue aqui’. Não sei se é desejo dele ou ele está receoso de quando isso chegar.”
g) Senado não barra impeachment:
“[O processo no Senado será] Extremamente árido. O foro de deliberação para aceitar o processo, o que já afasta a presidente, é maioria simples. A facilidade da abertura é muito grande. E haverá uma pressão enorme sobre o Senado para resolver logo o processo e permitir o pleno funcionamento do novo governo, que já estará de forma interina. Se o processo se arrastar aqui até setembro, o país continuará na bancarrota? E esse novo presidente vai pegar que país? Porque, se acham que vai pegar um país inteiro, ledo engano. Então avalio que o Senado conviverá com essa pressão.”
h) Votarei pelo…
“Tenho posição. Mas costumo brincar que ninguém escolhe sofrer por antecipação. Então, não falo.”
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Fonte: Veja

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