Cotidiano

Vacinas, uma boa notícia

A médica Stefania Teixeira Porto, do Hospital das Clínicas (HC), foi a primeira voluntária a receber, na última semana, uma dose da vacina contra o coronavírus desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac. Em parceria com o Instituto Butantan, os estudos clínicos foram iniciados para checar a eficácia e segurança do produto. Com isso, o Brasil coloca o pé na acirrada disputa para se obter uma substância capaz de imunizar as pessoas e colocar um fim na pandemia que assola o mundo. Para a médica, essa foi uma verdadeira injeção de ânimo depois de passar por meses tão difíceis provocados pela crise sanitária. “Estou contente de participar dessa experiência. É um momento histórico para todos nós”, disse Stefania. Segundo o presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, se tudo correr bem nos testes, podemos ter uma vacina contra a Covid-19 até o início de 2021.

Além do produto da Sinovac, três outros grupos já estão no Brasil iniciando testes de fase três, com humanos. Todos trabalham intensamente para conseguir chegar a uma vacina. Na primeira fase, o produto é testado em laboratório, numa segunda etapa os testes são feitos em animais e só na terceira etapa começam a ser aplicadas em pessoas. Primeiro em grupos pequenos e depois em grupos maiores, como o que está sendo feito pelo Instituto Butantan. O teste no HC terá 890 voluntários. Os pesquisadores do hospital vão acompanhar todos os resultados em consultas a cada duas semanas. Em 14 dias será dada uma segunda dose. A estimativa é concluir as primeiras análises em até 90 dias.

Os ensaios clínicos devem contar com cerca de nove mil voluntários em 12 centros de saúde envolvidos com a pesquisa. Os testes serão ainda acompanhados por uma comissão de pesquisadores internacionais, que terão acesso aos dados para observar o andamento e garantir transparência ao processo. Se houver sucesso, a vacina será produzida pelo Instituto Butantan a partir do início de 2021, com mais de 120 milhões de doses. “A vacina será destinada a todos os brasileiros, através do Sistema Único de Saúde (SUS) e o Instituto Butantan terá o domínio da tecnologia, como prevê o acordo com o laboratório Sinovac”, explicou o governador de São Paulo, João Doria.
Além da chinesa, outras tecnologias estão sendo utilizadas por laboratórios de todo o mundo para obtenção da vacina. A Universidade de Oxford em parceria com o laboratório AstraZeneca já experimentou uma vacina que produziu resultados seguros em ensaios clínicos, com testes em animais e em pequenos grupos de pessoas. O composto britânico também conseguiu provocar resposta dos anticorpos por contar com material genético do vírus (RNA). Já o chinês usa o vírus inativado.

Outra vacina a receber o aval da Anvisa para testes no Brasil é do laboratório norte-americano Pfizer, em conjunto com a alemã BioNTech, que também utiliza o RNA do vírus para produzir os antígenos. Mas na última semana, os EUA fecharam a compra de 100 milhões de doses da futura vacina, o que eleva o temor sobre o acesso ao imunizante da Pfizer, uma vez que a quantidade equivale à produção total do laboratório neste ano. A discussão em torno do assunto é grande e mostra que haverá uma disputa entre os países pela compra de vacinas eficazes. Outra empresa de biotecnologia norte-americana, a Moderna, também está iniciando os testes de fase três, ainda sem previsões de vir ao Brasil. A tecnologia utizada é considerada a mais inovadora e há fortes expectativas do setor sobre seu sucesso.

No total, 166 pesquisas buscam uma proteção contra o vírus que colocou o mundo de joelhos. Destas, apenas quatro já estão na fase três, considerada a mais avançada, quando há testes em humanos. No entanto, infectologistas do mundo inteiro, mesmo comemorando, alertam que isso ainda não é nenhuma garantia de que se obtenha sucesso contra o coronavírus que já contaminou só no Brasil 2,2 milhões pessoas, matando quase 85 mil até a quinta-feira 23. “Eu adoraria dizer que vamos tomar uma vacina em dois ou três meses e esse vírus desaparecerá. Mas isso não é realista”, disse o diretor de emergências da Organização Mundial da Saúde (OMS), Michael Ryan. Mesmo assim é uma esperança de luz no final do túnel escuro em que a humanidade se encontra desde o início deste ano.

77 3

Istoé

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo

Adblock detectado

Por favor, considere apoiar-nos, desativando o seu bloqueador de anúncios