Cidades

‘Tomei 16 facadas por causa de um celular’, diz motorista de app

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Foto: Tailane Muniz/CORREIO

A fisioterapeuta Lohanne Nouara Lima Santos, 23 anos, sente poucas dores no corpo, mas diz que nunca vai esquecer o trauma que viveu na noite desta quarta-feira (28) – quando foi esfaqueada 16 vezes durante um assalto. Motorista dos aplicativos Uber e 99 POP, ela foi atacada dentro do próprio carro – um Fiat Uno – por dois bandidos que fingiram ser passageiros durante uma corrida no bairro de Brotas, em Salvador. Após uma cirurgia para correção de um dos tendões da mão esquerda e mais de 60 pontos nos 16 ferimentos espalhados pela barriga, peito e braço, Lohanne pôde voltar para casa. O olhar perdido, justifica ela, é reflexo do trauma. “Eu tô aqui ainda meio sem entender nada. Estou me sentindo estranha. Nunca vou esquecer isso porque, meu Deus, eles me deram 16 facadas por causa de um celular”, relatou ao CORREIO, já na saída do Hospital Geral do Estado, onde ficou internada por quase 14 horas. “Eu tive muita sorte porque foram ferimentos superficiais. Não quero nem pensar em celular nenhum, o que importa é que eu estou viva. Eles poderiam ter pedido dinheiro, ou mesmo os celulares, eu teria entregue tudo, não precisavam ter feito isso comigo”, desabafa ela. Lohanne relatou ao CORREIO que nunca teve medo de dirigir em Salvador. “Eu nunca tive qualquer receio. Claro que tinha alguns cuidados com o dinheiro que eu levo comigo no carro, celular, mas medo nunca tive”, diz ela, acrescentando que cerca de R$ 300 que estavam com ela não foram levados pelos bandidos, assim como um segundo celular, que ela tem o hábito de deixar na cintura.

Pressentimento
A fisioterapeura piauiense contou que quando recebeu o chamado já estava no bairro de Brotas, na região da panificadora Panilha. “Liguei para a passageira, aparecia o nome Emile. Ela atendeu e disse que era para um rapaz. A partir dali, eu já tive um pressentimento ruim, mas fui mesmo assim. Ao chegar lá, ali na Dom João VI, próximo ao Aristides Maltez (hospital), eram dois jovens, aparentando uns 20 anos, acima de qualquer suspeita”, relata. Conforme Lohanne, o destino seria a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Brotas. “Mas eles entraram no carro e disseram que precisavam ir na casa da tia pegar alguma coisa, falando normalmente. Pediram para eu entrar em uma rua ali atrás do hospital (Aristides), então eu entrei. Logo que parei onde eles pediram, o que estava atrás me deu uma gravata, na tentativa de me enforcar, e o que estava no banco do carona já começou a socar minha barriga. Então eu senti a primeira facada, e as outras, sem parar”, lembra a vítima. Lohanne acredita que tenha ficado ao menos cinco minutos desacordada dentro do veículo. “Voltei à consciencia e me vi ali, sozinha, naquela rua deserta. Só tive a ação de ligar para alguém muito próximo, então liguei para a minha amiga e dirigi até a faculdade dela. Ela me manteve calma, eu só chorava muito porque não queria ir sozinha pro hospital. Então ela assumiu a direção e me trouxe”, acrescenta a piauiense.

Alvo fácil
Também motorista de aplicativos, Jarineia de Jesus Pires, 35, conta que as mulheres são “alvo mais fácil” neste tipo de ação. “Claro que estamos em desvantagem neste sentido. Eu não tenho dúvidas disso. Inclusive, no grupo que temos com algumas motoristas, somos 120 no grupo, em sete dias, foram relatados quatro roubos de carros. Ou seja, é um número enorme” disse ao CORREIO. Motorista do Uber e do 99 POP há dois anos, ela acrescentou, ainda, que as mulheres  do grupo têm alguns critérios na hora de aceitar a corrida. “Quando é no dinheiro é pra ficar atento. A gente também cancela bastante corridas, especialmente em lugares mais arriscados. E ligar. É importante ligar sempre”. Lohanne, no entanto, conta que não costuma cancelar corridas e que nunca teve preferência por um ou outro aplicativo. “Eu ligo os dois e sempre vou onde chamam, nunca tive medo mesmo. Apenas procuro não deixar o dinheiro exposto e um dos celulares sempre escondido. Mas, claro, talvez nós [mulheres] sejamos, sim, alvo mais fácil”, diz a vítima. Embora esteja “bem”, a jovem disse que pensa em retornar à cidade natal, a pedido dos familiares. Há quase um ano morando em Salvador, ela garantiu que nunca se sentiu ameaçada na capital. “Gosto muito daqui e não queria ir embora, mas estou considerando voltar, até para tranquilizar meus familiares que estão muito aflitos com tudo isso”, revela ela, acrescentando que pretende ir à delegacia prestar queixa do caso, que só está registrado no posto policial do HGE. Em nota, 99 POP informou que após o assalto o perfil do passageiro responsável pela chamada foi bloqueado da plataforma. “Estamos abertos para colaborar com as autoridades”, disse a empresa. O crime vai ser investigado pela 6ª Delegacia (Brotas). (Correio)

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