Cotidiano

Providencia, a pacata ilha caribenha onde os homens estão sumindo

PROVIDENCIA - MORADORÀ primeira vista, esta pequena ilha caribenha mantém a tranquilidade e beleza ainda intocados pelo turismo. Mas Providencia tem um segredo – um grande número de pessoas que foram aliciadas por narcotraficantes e sumiram.

Aqui, ninguém parece estressado. E há sorrisos por todos os lugares. Esta é uma ilha colonizada por puritanos britânicos em 1629. Apesar de há tempos ser parte da Colômbia e estar localizada perto do litoral da Nicarágua, a língua aqui é um inglês mal falado.

Os moradores, entre 5 mil e 6 mil, se sentem mais caribenhos do que colombianos. Muitos seguem a cultura rastafari e, por anos, o local esteve livre dos violentos narcotraficantes colombianos. Não há homens armados, guarda-costas nem a ostentação típica de traficantes.

Mas a verdade é que Providencia não poderia ficar imune aos problemas da Colômbia para sempre e, há alguns anos, traficantes descobriram que os moradores eram excelentes marinheiros, com grande conhecimento das águas da região.

“Eles são o último degrau no comércio do tráfico de drogas”, diz o veterano jornalista Amparo Ponton, que vive na ilha há 25 anos. “Os moradores leem o oceano melhor do que ninguém, por isso são contratados como pilotos nas lanchas de tráfico.”

A ilha está “perdendo os seus homens”, afirma uma moradora, que pediu anonimato. “Fiz uma pesquisa e há pelo menos 800 homens presos em diferentes cadeias no exterior ou que simplesmente desapareceram.”

Isto significa que mais de um em cada quatro homens da ilha sumiram, se o levantamento estiver correto. A população da ilha é divida igualmente entre homens e mulheres. Não há dados oficiais.

“Mães estão chorando”
Se um barco carregado de drogas chegar ao destino – que pode ser qualquer lugar entre Honduras e a Flórida – eles ganham milhares de dólares. Se são pegos, acabam na prisão.

A coisa fica séria quando um barco é perseguido pela guarda costeira. Neste caso, a equipe joga a droga no mar – e, depois, tem de se explicar aos traficantes. A próxima tarefa torna-se, então, uma obrigação que não pode ser recusada.

“Meu garoto acabou numa prisão no Mississippi (Estados Unidos)”, conta uma mãe. “Ele já tinha passado seis anos preso nos Estados Unidos. Mas tentou de novo e deu errado de novo. Acho que ele tentou de novo porque não achou trabalho… A maioria das famílias na ilha foi afetada por isso de uma maneira ou de outra […] Estamos perdendo nossos rapazes.”

Uma maneira de criar mais trabalho seria desenvolver o turismo, mas esse é um caminho que Providencia não quer tomar, ao contrário da vizinha San Andres, povoada por resorts.

“Perdemos quase 10% da geração antes de mim”, relata o pescador Loreno Bent, de 26 anos. “Há crianças que acordam todos os dias sem saber quem é o pai porque ele se perdeu no mar quando elas tinham quatro meses […] Mães estão chorando porque seus meninos saíram e nunca voltaram. Ninguém sabe onde eles estão. Eles podem estar em alguma cadeia no mundo. A gente simplesmente não sabe.”

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