Cidades

Professores de redação indicam os 10 temas mais cotados para o Enem

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Yan, 17, passou a priorizar leitura de jornais para se manter atualizado (Foto: Almiro Lopes)
Todo ano, se preparar para a prova de redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é uma das principais preocupações dos candidatos. Isso porque  há sempre o temor de que não tenha se aprofundado no tema, durante a fase de preparação. Mas dá para, praticamente, eliminar as chances de ser surpreendido? Professores de redação consultados pelo CORREIO garantem que sim, considerando que os assuntos cobrados, quase sempre, estão relacionados com discussões da atualidade. Diante disso, eles listaram, a nosso pedido, os dez temas mais cotados para cair na redação este ano (ver ao lado).
Beth Lacerda, professora do Colégio Antônio Vieira, explica para seus alunos que as propostas de redação do Enem nos últimos anos têm sempre apontado para três grandes áreas: direitos humanos, tecnologias e meio ambiente.
“Podemos ter no meio ambiente questões sobre a crise energética. A área de tecnologia, como exemplo, temos a relação do humor e do ciberbullying ou o marco civil da internet”, aponta.

Já o professor de redação Léo Mendes acha que o melhor é não arriscar e que é importante estar sempre atento. “Precisa ler sobre tudo. Dizer que um tema ou outro é predileto é loteria. Quem poderia imaginar o tema do ano passado?”, questiona.

Em 2014, os estudantes foram desafiados a escrever um texto dissertativo-argumentativo sobre publicidade infantil no Brasil.Léo, no entanto, sugere que os estudantes fiquem atentos nas questões sobre o que ele chama de “direito à diversidade”, considerando a recém-aprovação da Suprema Corte dos Estados Unidos para o casamento de pessoas do mesmo sexo. “É importante lembrar que redações ou propostas de intervenção que não respeitem os direitos humanos anulam a redação”, avisa.

Atualidades
Segundo os professores, falar de atualidades é se referir à história se desenhando à frente dos nossos olhos. É por isso que o professor Zé Nilton Andrade, que ensina as disciplinas Atualidades e História em cursinhos pré-vestibular, alerta para a necessidade de situar no tempo o tema que se pretende estudar. “Nunca dá para falar somente de atualidade. Ela exige dos estudantes um embasamento histórico”, conta.Para não derrapar na  hora H, o estudante Yan Andrade, 17 anos, tomou uma atitude radical: deixou de lado os livros que lia por lazer e passou a focar sua atenção na leitura de jornais e revistas, a fim de aprofundar seu conhecimento nos temas da atualidade. Ele também tem outras estratégias para melhorar seu desempenho  na redação.

Outro tema atual que os estudantes devem acompanhar, segundo os professores consultados, são as questões de mobilidade urbana. Os desafios de melhorar o transporte coletivo para que os cidadãos reduzam o uso dos carros, que hoje travam as metrópoles do país, está dentro desse tópico. Exemplo de um assunto que é importante ficar atento no noticiário é o debate iniciado em São Paulo após a implantação de ciclovias que ocuparam espaços de estacionamentos e pistas.

A professora Ana Paula Marques também orienta os alunos a ficarem de olho na seção de educação do noticiário. “A importância da educação e da leitura, a qualificação do brasileiro e outros aspectos que tocam o tema da cidadania são importantes e podem ajudar no entendimento de outros temas como a preservação da água e a importância do voto”, ilustra.
A atual crise econômica também está em evidência. “(A situação do Brasil, hoje) está dentro de um quadro de crise do capitalismo, que tem outras repercussões históricas e de algum modo iniciou com a crise da bolha imobiliária (crise financeira americana que teve início entre 2007 e 2008)”, cita Ana Paula.  Segundo ela, “isso pode ser tratado na prova dentro de uma visão marxista, pois se trata de um governo de esquerda em vigor”. “Eles preparam a prova, mas não podem fugir desse tema, afinal, ele tem inúmeros impactos sociais, como o desemprego”, complementa.

Outros anos
Nos últimos dez  anos, os temas do Enem variaram bastante. Em 2013, foram abordados  os  efeitos da implantação da Lei Seca no Brasil. Em 2012, foi a vez do movimento imigratório para o Brasil no século 21. Em 2011, “Viver em rede no século 21: os limites entre o público e o privado” foi a aposta. O foco era discutir a convivência social e as relações do homem com a sociedade. Em 2010, os estudantes tiveram de falar sobre  o trabalho na construção da dignidade humana. Já  em 2009, a discussão era sobre “o indivíduo frente à ética nacional”. Em 2008, os candidatos tiveram de propor saídas para o desmatamento da Floresta Amazônica. Um ano antes,  o tema era “como conviver com as diferenças”.  Em 2006, falou-se sobre poder de transformação da leitura e, por fim,  em 2005, sobre trabalho infantil no Brasil.

Candidatos adotam estratégias e mudam rotina por melhor redação
Por Yne Manuella

Até o ano passado, o estudante Alex Conceição, 19 anos, não sabia fazer redação. A dificuldade, segundo ele, vinha da falta de leitura. “Eu não ligava para ler, mas vi que se a pessoa não ler, a redação não sai”, contou ele, que desde dezembro tem lido revistas e livros sobre temas da atualidade, que podem ser cobrados na prova. Para aprender a lidar melhor com o tempo – a maior dificuldade que enfrenta quando vai fazer uma redação, hoje – Alex, que quer cursar Farmácia, resolveu usar um cronômetro. “Antigamente, eu demorava até duas horas para fazer uma redação, o que era muito. Agora levo uma hora. Minha meta é levar 40 minutos no dia da prova”, contou ele, que tem feito quatro redações por semana. “Exercitando, uma hora vou chegar à perfeição”, acredita ele, que também pesquisa novas palavras para aumentar o vocabulário.

O tempo também é o grande vilão enfrentado pelo estudante  Yan Andrade, 17. “Eu fazia bons textos, mas levava três horas escrevendo. Meu grande desafio vai ser fazer uma redação boa em menos tempo”. Yan chegou a fazer um curso particular de redação, ano passado, para se aperfeiçoar. “Quando a pessoa pratica, a redação sai de forma mais rápida e natural”, afirma o rapaz, que pretende cursar Letras, Jornalismo ou Psicologia e tem dedicado os dias de domingo, exclusivamente, para escrever redações. Já Stefani Maia, 22 anos, prefere se preparar lendo as redações de candidatos que já obtiveram nota máxima no Enem. “Estou pegando redações antigas e tirando os modelos”, explica.

Stefani dedica duas manhãs por semana para revisar assuntos de gramática, acompanhar notícias através de sites jornalísticos e escrever redações. Para ela, é a prática que vai garantir uma pontuação mais alta na hora do exame. “Minha nota na redação do Enem do ano passado foi 630, mas já tirei 810 há quatro anos. O meu rendimento baixou, fiquei revoltada. Acho que a nota baixou porque eu não estava praticando, mas agora estou correndo atrás”, garante a moça, que pretende cursar Engenharia de Produção.

Capacidade de argumentação e análise são imprescindíveis
Para Ana Paula Marques,  coordenadora pedagógica no Colégio Antônio Vieira, é preciso muito mais que ler, ouvir ou ver notícias. Ela propõe que esse consumo seja direcionado aos estudos. “O estudante precisa exercitar sua capacidade de fazer conexões com outros assuntos que está estudando e exercitar suas capacidades de argumentação e análise, que vão ser importantes na hora da redação”, orienta. O edital do Enem prevê que os candidatos devem desenvolver o tema “por meio de argumentação consistente, a partir de um repertório sociocultural produtivo”. A professora Beth Lacerda acredita que buscar se atualizar – não só através de notícias, mas também viajando e buscando leituras de grandes pensadores – é o que vai garantir esse repertório que o MEC espera dos alunos.

VEJA OS TEMAS MAIS COTADOS PARA ESTE ANO

Índices na educação podem explicar atitudes cidadãs
Identificar como os índices e resultados na educação do brasileiro têm interferido não só na qualificação para o mercado de trabalho, mas para outras questões sociais, como a política e a preocupação com a preservação dos recursos naturais. A discussão sobre a globalização e o compromisso cidadão também estão inclusas.

Suprema Corte dos EUA aprova casamento gay
A institucionalização do casamento homoafetivo promovido pela Suprema Corte dos Estados Unidos reacendeu aqui no Brasil o debate para questões do direito civil de casais gays. Em 2013, o tema esteve quente quando uma resolução do Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou a celebração de casamento civil entre pessoas do mesmo sexo nos cartórios brasileiros. O tema aparece em novelas e propagandas.

Crise na economia brasileira e seus reflexos
A crise financeira – inclusive a atual rejeição dos gregos às condições de credores, em troca de ajuda financeira – é um tema que os estudantes precisam se atentar. No Brasil, a condição de país emergente faz com que os impactos da desaceleração econômica atinjam áreas importantes como emprego, que pode ter uma ligação direta com a violência. É possível que sejam lembradas outras crises que atingiram o mundo, como a de 1929.

Direitos trabalhistas para domésticos são consolidados
Em vigor desde 2013, as novas regras que garantem melhores condições de trabalho para os profissionais que fazem trabalhos domésticos levantam debates que passam não só por questões trabalhistas, mas também sociais. O tema virou uma polêmica porque patrões alegam que não podem pagar os direitos e os domésticos consideram a PEC uma conquista histórica. Entre os direitos estão horas extras e adicional noturno.

Infraestrutura defasada trava mobilidade no Brasil
A redução de impostos para venda de carros movimentou a economia do país e travou o trânsito dos grandes centros urbanos, que têm como desafio buscar um transporte público melhor. A estrutura defasada é alvo de reclamações da população que faz uso diário dos equipamentos. A implantação de ciclovias, em áreas antes tomadas por carros, é uma das saídas apontadas por especialistas, mas há polêmicas em torno disso.

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Mobilidade: Brasil busca saídas (Foto: AFP)

Crise no Brasil abre discussão para sistema eleitoral
A crise financeira no país tem provocado quedas de popularidade do atual governo. O debate nas redes sociais, que inclui até pedidos de impeachment da presidente Dilma Rousseff, levanta a discussão sobre a democracia, o voto e a participação popular. As manifestações que vêm acontecendo no país desde 2013 mostram uma população (especialmente a mais jovem) que está mais interessada em expressar suas opiniões.

Casos de racismo ganham repercussão com internet
Declarações preconceituosas que circularam na internet na última semana contra a jornalista Maria Júlia Coutinho não são pontuais e atingem milhões de brasileiros. O racismo é um crime que fere os direitos humanos, amplamente defendidos no Enem. Para contextualizar o crime, é preciso relembrar a história do Brasil e as desigualdades sociais que sempre geraram manifestações de preconceito e racismo em diferentes épocas no país.

Reservatórios quase vazios preocupam grandes centros
Os baixos níveis de reservatórios de água em São Paulo e no Rio de Janeiro colocaram em pauta o problema da gestão da água no país. Os impactos dessa crise com as questões energéticas do país devem ser motivo de atenção, como as ameaças de apagão. Questões envolvendo a preservação de grandes rios, como o São Francisco, também são assuntos para ficar atento.

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Crise hídrica nas grandes cidades (Foto: AFP)

Combate aos  casos de agressão contra as mulheres
Mesmo sendo de 2006, a Lei Maria da Penha volta e meia está em pauta pelo fato de a violência doméstica ainda ser um tema recorrente na imprensa. Os casos de mulheres agredidas e mortas por seus companheiros ou pessoas próximas, como pais e padrastos, são recorrentes no noticiário. A dupla jornada de mulheres com filhos também pode ser um tema discutido.

Vídeos na internet são motivo de bullying entre jovens
Um crime que se utiliza do anonimato da internet para constranger. Com o crescimento de vítimas, principalmente adolescentes, esse é um tema que tem se tornado uma preocupação de educadores e do próprio governo federal. A divulgação cada vez mais comum de vídeos íntimos na internet, que se espalham como virais, mostra a necessidade de discutir mais o tema. Correio

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