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Prefeito de Feira diz que a oposição precisa se movimentar mais para 2014

Ao completar 100 dias no comando do poder Executivo na segunda maior cidade do estado, Feira de Santana, o prefeito José Ronaldo (DEM) ressalta que o município já começou a recuperar a confiança perdida.

Embora evite fazer críticas, segundo ele, a situação não é mais a mesma deixada pelo seu antecessor, o ex-prefeito Tarcízio Pimenta (PDT). Hoje, a administração municipal consegue assinar convênios com os ministérios do governo federal e instituições como a Caixa Econômica.

Um dos maiores desafios a serem vencidos é a melhoria do transporte público, e uma das soluções apontadas é a implantação do BRT. Apesar de pertencer ao DEM, o gestor de Feira de Santana disse que o município está à disposição para fazer uma parceria institucional com o governo estadual do PT. Ronaldo confessou que o relacionamento hoje com o governador Jaques Wagner (PT) “não é de estremecimento, mas também não é de aproximação”.

Ele disse que espera uma audiência para que ocorra um diálogo maior. Cotado como um dos nomes para o Palácio de Ondina em 2014, o democrata descarta ao dizer que vai cumprir até o fim o mandato de prefeito, mas sinaliza um recado para que a oposição comece a se movimentar mais.

Tribuna da Bahia – Qual a herança que o senhor recebeu do ex-prefeito Tarcízio Pimenta (PDT)?
José Ronaldo –
 Eu não gosto muito de falar nisso, mas encontramos uma população desacreditada na administração pública existente. O que precisávamos era fazer o povo voltar a acreditar na administração da cidade. Acredito que a equipe que nós montamos e com as licitações públicas que já passamos a realizar, a população já voltou a acreditar na gestão da cidade e o número de concorrentes tem sido cada vez maior nas licitações públicas. A questão também de falta de pagamento e a previdência municipal que tinha meses que o município não repassava o que deixou a cidade inadimplente junto ao governo federal, a Caixa Econômica. Isso fez com que a cidade não pudesse assinar novos convênios e nós conquistamos isso de volta. Nós conseguimos assinar diversos contratos junto à Caixa, provenientes de emendas parlamentares ou de recursos repassados através dos vários ministérios do governo federal. Essa foi a preocupação inicial, que era dar uma solução para esses problemas muito graves. O segundo ponto era ver os contratos existentes na prefeitura. Tem determinados contratos que não podemos parar de uma forma brusca, como o da limpeza da cidade, por exemplo. O que tínhamos que fazer? Tínhamos que ver o funcionamento. Encontrei um contrato em vigor por seis meses, então fizemos a limpeza da cidade, acompanhando realmente passo a passo para ver qual o custo mensal e daí em diante fazer um novo contrato. Esse contrato que nós fizemos foi com 16 % a menos do que vinha sendo praticado e já estamos publicando uma licitação pública para que a empresa vencedora faça a limpeza da cidade por cinco anos.

 

Tribuna – Qual o maior gargalo da cidade de Feira de Santana atualmente?
Ronaldo 
– O transporte público, que passa por um momento ruim. No meu governo anterior, nós implantamos o sistema integrado de transporte que é aquele que se você vai do sul para o norte você pagava apenas uma. Antes desse sistema você pagava duas passagens. Mas levou quatro anos o povo reclamando e, por incrível que pareça, nós assumimos e não encontramos uma multa sequer contra uma empresa de ônibus. Isso é muito estranho, muito esquisito. Só para você ter uma ideia, nesses cem dias de governo nós tiramos 25 ônibus de circulação em Feira porque detectamos que esses veículos não estavam em condição de circularem. Nós estamos apertando as empresas no sentido de elas fazerem uma renovação das frotas, enquanto implantamos um sistema novo de transportes que conseguimos aprovar em Brasília. Estamos em fase de contratação de empresas para elaboração de um projeto para implantação do sistema BRT em Feira. Outro problema que virou uma grande reclamação das pessoas era o barulho na cidade. As pessoas reclamavam muito nos bairros e no centro de carros de som acima de cem decibéis, de boates, etc. Mas, nesses cem dias nós fizemos uma ação muito forte nessa linha e praticamente acabamos com o barulho na cidade, que voltou a respirar o silêncio, e há respeito à lei e à causa pública. Lançamos um programa chamado Pacto da Feira, que tem o objetivo de organizar o centro da cidade que estava muito cheio do comércio informal. Não podíamos resolver isso com a violência, mas com o diálogo. Conseguimos uma grande mobilização da sociedade, que vai da associação comercial, do centro das indústrias, para os sindicatos dos comerciantes e camelôs, e o diálogo está sendo muito bom e aberto. Acreditamos que vamos resolver esse problema do centro da cidade. Vamos fazer uma arrumação urbanística no centro da cidade. Esse é um projeto que vem sendo executado, vem se trabalhando de forma árdua, com muita determinação e com muita coragem pra vencer as dificuldades. Vamos ter um novo centro na cidade de Feira de Santana.

 

Tribuna – Feira de Santana é hoje uma região metropolitana, mas por que esse projeto não saiu do papel?
Ronaldo 
– Essa é uma boa pergunta. A sociedade, inclusive, passou a perguntar muito sobre isso. A região metropolitana de Feira de Santana nasceu de uma forma muito acanhada. Eu entendo e Colbert (Martins), um dos idealizadores desse projeto, entendia também que deveria fazer parte da região cerca de 25 municípios, mas foi implantada com seis, sendo talvez uma das regiões metropolitanas mais pequenas que existem.

 

Tribuna – O governo do estado inviabilizou a região metropolitana de Feira?
Ronaldo 
– Não. Não digo que inviabilizou porque já que foi criada com seis municípios já deveria ter sido implantada. Condições para isso o governo teve, tem e terá. No dia em que o governo desejar realmente implantar a Região metropolitana de Feira, evidentemente o governo fará. Eu não vejo dificuldades nenhuma para isso. Mesmo porque o município não se opõe de jeito nenhum. O município, pelo contrário, está aberto ao diálogo para qualquer projeto que seja para o desenvolvimento e para o benefício do município de Feira de Santana.

 

Tribuna – O Ministério Público Federal denunciou o ex-prefeito Tarcízio Pimenta por corrupção e lavagem de dinheiro. Como o senhor avalia esse fato, já que encontrou a prefeitura em situação caótica sob o aspecto de gestão?
Ronaldo 
– Olha, eu acho que quando o Ministério Público faz uma ação dessa ou outras ações existentes na Justiça, evidentemente, eu não preciso nem falar. Já há uma manifestação, e se o Ministério Público assim agiu é porque foi provocado por algum segmento da sociedade e fez as devidas apurações. Eu acredito e eu sempre disse na campanha, durante, depois da campanha e no dia da minha posse que eu aprendi uma coisa na minha vida. Aprendi que o governante tem que entrar, trabalhar, governar e buscar superar as dificuldades. Quando o governante assume e fica pensando em tão somente atacar o passado e não projetar o futuro, ele termina não fazendo uma boa gestão. Eu entendo que o Ministério Público é um instrumento independente e apartidário. Aproveito esse assunto para dizer que sou a favor da derrubada da PEC número 37. Eu acho que o país precisa dessa instituição e é muito importante o trabalho que ela desenvolve.

 

Tribuna – Esses desmandos que teriam acontecido podem respingar em sua gestão?
Ronaldo 
– Como já disse anteriormente, estamos superando as dificuldades. Muita coisa já evoluiu. Hoje me sinto mais seguro do que os primeiros 30 dias. A experiência de já ter sido prefeito, vereador, deputado, tudo isso me ajuda a conduzir a administração pública. Acho que vamos superar essas dificuldades. Aprovamos uma lei na Câmara Municipal que vai ajudar muito. Fizemos um levantamento nacional e Feira de Santana é o município que menos arrecada impostos do IPTU no Brasil, entre as cidades com e acima de 400 mil habitantes em média. Nós então mandamos uma lei que aprovamos na Câmara que autoriza o município a colocar no Serasa aqueles que não cumprirem o pagamento. Isso depois de todos os diálogos e notificações. Com certeza essa medida vai ajudar o município a melhorar a arrecadação.

 

Tribuna – Feira tem sofrido muito com a queda do Fundo de Participação dos Municípios (FPM)?
Ronaldo 
– Eu acho que todos os municípios sofrem. É muito importante quando um governo concede a redução no IPI do carro. Acho que a sociedade precisa disso. É uma medida para manter a economia viva, melhorar o PIB e o emprego. Eu entendo e compreendo tudo isso, mas quando se toma uma atitude como essa se causa prejuízo aos estados e municípios, pois esse é um imposto que uma parcela pertence aos estados e outra é para os municípios, e existem outras formas de contribuições como o PIS, o Confins, que são exclusivamente do governo federal. Aí vêm as perguntas de nós prefeitos. Por que dar o benefício só no IPI? Por que não dar no PIS e no Cofins? Porque quebra no município, no Estado e na União. Isso causa um prejuízo muito grande aos municípios e aos estados. Repito, é importante que dê, acelera e melhora a economia, porém traz dificuldades para os municípios. Por isso até sugerimos, se já deu no IPI, no próximo dê no Cofins, no PIS, para equilibrar a situação.

 

Tribuna – Falando em política, o nome do senhor e do prefeito ACM Neto (DEM) são os mais fortes da oposição para as eleições ao governo de 2014. Existe alguma possibilidade disso acontecer?
Ronaldo 
– Não. Eu não vejo essa possibilidade. Neto assumiu a prefeitura e eu acredito muito no sucesso de sua administração. Acredito que ele vai ser um grande prefeito para Salvador, pois está agindo com muita segurança, muita firmeza, e não tenho dúvidas de que Salvador já está respirando um ar bem diferente, um ar mais seguro. Ele é um jovem de muito futuro na política do nosso Estado, mas de hipótese alguma, e ele me assegura que não, vai sair da prefeitura para ser candidato a governador. Da mesma forma eu respondo que eu vou concluir o mandato. Eu fui eleito dizendo ao povo de Feira de Santana que ficaria até o último dia do mandato e é isso que eu vou fazer e perseguir.

 

Tribuna – José Carlos Aleluia e Paulo Souto. Qual dos dois é mais competitivo dentro do DEM?
Ronaldo –
 Eu acho que não podemos fazer uma campanha pensando apenas no Partido Democratas. Acho que campanha política deve ter uma amplitude maior. Eu acho que o candidato deve ser buscado dentro de um segmento político que não seja obrigatoriamente do meu partido. Pode ser de qualquer outro partido. Olha, eu tive o apoio de 15, dezesseis partidos políticos, dentre os quais o PMDB, que está apresentando o ex-ministro Geddel Vieira Lima. O PSDB também apresentou o nome do ex-prefeito de Mata de São João, João Gualberto, e do deputado Antonio Imbassahy. Mas poderão aparecer outros nomes que ainda não foram ventilados. A política é muito dinâmica e está tomando um rumo bem maior não só em nível local, mas também nacional. Acredito que nos próximos três ou quatro meses isso ganhará muito mais força.

 

Tribuna – Como fazer para o nome da oposição se viabilizar e se tornar um candidato competitivo contra o postulante do PT e da base do governo?
Ronaldo 
– Olha, eu acho que o que precisa se ter é coragem, determinação e humildade, onde cada pessoa tenha seu ponto de vista, tenha humildade e coragem para saber quem está melhor para o momento. Assim agindo, com certeza haverá uma boa disputa, uma boa eleição, e o povo ganhará com isso.

 

Tribuna – O PT deixa claro que não abrirá mão de liderar o processo. Como o senhor avalia essa questão?
Ronaldo
 – Olha, eu costumo não falar dos partidos que não são coligados conosco. Isso fica até meio chato. Mas acho até normal o governador estar no poder e querer indicar o nome para sucessão que seja do seu partido político. Não vejo nada de anormal nisso.

 

Tribuna – Há algum tipo de estremecimento na relação institucional com o governo estadual?
Ronaldo 
– Estremecimento não, mas também aproximação não. Quando eu e encontro com o governador, a gente conversa bem. É uma conversa amigável e educada de duas pessoas públicas que sabem respeitar a causa pública, a democracia. Eu estou aguardando uma audiência que pedi para conversarmos sobre trabalho. Nós somos políticos, somos homens públicos. Eu fui eleito pelo povo e ele foi eleito pelo povo. Eu sempre fui aberto ao diálogo e continuarei sendo. Estou aguardando a audiência que ele disse que estaria me concedendo. No dia que for marcada eu irei.

 

Tribuna – O senhor possui maioria na Câmara Municipal de Feira de Santana? A oposição lhe dá muita dor de cabeça?
Ronaldo –
 São 21 vereadores e 18 me apoiam. Agora, veja bem, essa coisa de oposição dar dor de cabeça ou não dor de cabeça não me incomoda. Eu acho que oposição é para dar as suas opiniões. Quando não é uma coisa de calúnia e de agressão gratuita, às vezes um discurso de oposição serve até para alertar para alguma coisa. Quando se faz política com responsabilidade e se coloca determinados pontos de vista, você às vezes até ouve. O problema é quando há um radicalismo danado e que a pessoa não sabe levar para o campo da democracia e confunde a democracia com o simples fato ou desejo desenfreado de apresentar uma denúncia sem apurar e sem saber direito.

 

Tribuna – O senhor acha que existe o risco de o vice-governador Otto Alencar (PSD) se tornar candidato ao governo pela base estadual ou pela oposição?
Ronaldo 
– Olha, o Otto é um nome bem conhecido na Bahia, tem uma história longa na política do Estado, tem base política forte, tem uma ótima penetração no interior do Estado, em algumas regiões como o Nordeste, a Chapada Diamantina, onde ele sempre atuou forte. Tem uma experiência de vida muito grande, é vice-governador, já foi governador, então ele ser candidato a governador pelo governo ou pela oposição só ele pode responder. Agora, eu reconheço nele um nome que tem potencial para disputar uma eleição. Onde ou por onde somente ele pode falar.

 

Tribuna – O governo do Estado pode apoiar mais a prefeitura de Feira de Santana?
Ronaldo 
– Olha, se você perguntar ao governador, ele vai dizer que está trabalhando na cidade. Se você me pergunta se o volume que o governo está investindo é o ideal, eu respondo que ainda não porque a gente sempre quer mais, a gente sempre deseja mais. Assim como o povo acha que eu devo fazer muito mais, a gente também acha que o governo deve fazer muito mais. Eu aproveito essa pergunta para dizer que o município está à disposição para fazer um trabalho de parceria em benefício do povo de Feira de Santana.

 

Tribuna – O senhor acha que Feira de Santana e região, onde o senhor obteve votação expressiva na eleição ao Senado em 2010, devem estar representadas na chapa de 2014? Isso vai influir decisivamente na formação da majoritária?
Ronaldo
 – Não. Acho que o importante, em primeiro lugar, é sentar, debater, discutir. A oposição deve fazer isso. A minha posição e a de Neto (ACM) é de companheiros. Uma posição de quem está governando. Quem está governando tem responsabilidades muito grandes, com a administração, com a sociedade, de buscar recursos aqui e acolá para poder fazer a gestão, portanto a nossa responsabilidade é diferente da responsabilidade de um parlamentar, por exemplo. Fugir das minhas responsabilidades eu não vou fugir de jeito nenhum. Também não sou um homem de me acomodar. Nunca fui de me acomodar. O que eu digo sempre é que as pessoas que estão com esse objetivo e que desejam fazer isso devem se movimentar. É uma hora de se movimentar, de viajar, de conhecer mais regiões do Estado, de discutir mais com a sociedade. É a hora de a oposição se colocar como uma opção para os segmentos da sociedade. Eu acho que essas pessoas devem andar.

 

Tribuna – O senhor acha que a oposição está muito morna? Não estão se movimentando como deveriam?
Ronaldo 
– Eu li recentemente que eles vão começar a se movimentar e viajar. Eu espero que façam isso.

 

Colaboraram: Fernanda Chagas, Lilian Machado e Marcelo Sacramento. Tribuna

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