Artigo

Por que não divulgar casos de suicídio?

Este editorial visa trazer à tona a discussão da não publicação de casos de suicídios pelos jornais. 

O jornalismo, enquanto agente construtor do imaginário coletivo, reflete e suplanta pensamentos coletivos, ora promovendo a manutenção de tabus, ora sugerindo novas formas de conceber os novos pensamentos e mudanças no mundo. 

Por isso, talvez, o tema suicídio seja colocado, muitas vezes, à margem da ação jornalística, como afirma a jornalista Carolina Pompeo Grando em seu texto “O suicídio na pauta jornalística”.

Com o advento das redes sociais e o aumento dos usuários que veem a internet como espaço de “liberdade de expressão”, vemos diariamente a falta de respeito dos seres humanos – que nem formados são, mas se auto intitulam “jornalistas”, vorazes para dar uma notícia “quentinha”. “Aconteceu uma coisa ali, deixa eu postar no meu Facebook ou mandar para uma página ou blog”. 

Mesmo que o que tenha acontecido seja um suicídio.

Entretanto, profissionalmente falando, não é bem assim que funcionam os jornais. Ou pelo menos não é como deveriam funcionar quando o assunto é suicídio. 

Existe uma convenção profissional extraoficial, uma espécie de acordo seguido pelos manuais de redação de grandes jornais que determina: suicídios não serão noticiados pela imprensa. 

Muitos veículos optam por não publicar por uma questão moral de incentivo a novos casos.

O sociólogo francês Émile Durkheim (1977) já abordava o suicídio como uma manifestação individual de um fenômeno coletivo e cada sociedade está predisposta a fornecer um contingente determinado de mortes voluntárias. As razões dos suicidas seriam processadas individualmente, mas sempre de modo a refletir uma realidade social.

Sabemos que, noticiados ou não, atos violentos não deixarão de ser praticados. O compromisso da imprensa é com a realidade. 

O bom senso e o bom gosto devem ser manifestados na linguagem editorial adotada por cada veículo para noticiar determinados acontecimentos. 

Em seu estudo sociológico sobre o suicídio, Durkheim (1977) também aponta a possível relação entre noticiar suicídios e estimular novos casos. De acordo com o pesquisador, só há imitação se existir um modelo que possa ser imitado: sem uma fonte, não há contágio.

O jornalismo não existe somente para noticiar fatos. Seu papel vai além – o de informar no sentido de instruir a população, de construir uma forma de pensar e proporcionar um compartilhamento de informações e experiências, promovendo debate e maior compreensão sobre temas sociais.

O Mídia Bahia, face ao exposto, alguns de nossos leitores questionam nossa posição quanto à divulgação de casos de suicídios, mas, apesar de serem recorrentes na sociedade, em respeito ao jornalismo e a ética, não divulgamos tais casos, exceto em situações particulares, pela notoriedade dos envolvidos ou pelo interesse público das razões que o levaram ao ato.

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo

Adblock detectado

Por favor, considere apoiar-nos, desativando o seu bloqueador de anúncios