Cotidiano

‘Ocupamos a Paulista para pedir igualdade’, diz organizador da Parada Gay

PASSEATA GAY - SPMilhares de pessoas tomaram a Avenida Paulista, neste domingo, na Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, que chegou à 19ª edição enfrentando sociedade e Congresso cada vez mais conservadores, na avaliação de líderes do movimento gay e políticos que participaram da marcha. O evento também foi marcado por cobranças de mais segurança e apoio ao movimento LGBT ao prefeito Fernando Haddad e ao governador Geraldo Alckmin. Apesar das críticas, o clima foi de festa, com 18 trios elétricos e muita música para animar os participantes no domingo ensolarado.

A concentração foi iniciada às 10h e a marcha começou por volta de 12h20, seguindo pela Paulista, Rua da Consolação, até a Praça Roosevelt, onde aconteceu a dispersão no início da noite. Depois, estavam programados shows na Praça da República. Ainda não há estimativa oficial do número de participantes, mas os organizadores esperavam que 2,5 milhões de pessoas comparecessem ao evento, ao longo do dia. A Parada do Orgulho LGBT de São Paulo é considerada uma das maiores do mundo.

Este ano a organização escolheu como tema “Eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim: respeitem-me!”, uma referência à música de Dorival Caymmi à personagem Gabriela, de Jorge Amado. Um dos trios elétricos mais requisitados foi o das atrizes americanas Uzo Aduba, Natasha Lyonne e Samira Wiley, da série “Orange is the new black”, que retrata a vida de mulheres negras e lésbicas numa prisão, e dos atores Miguel Angel Silvestre e Naveen Andrew, da série Sense8. Na saída do trio elétrico, os fás tentaram se aproximar dos atores e foram contidos por seguranças. Houve confusão e uma mulher caiu no chão.

A universitária Sara Teixeira, de 21 anos, foi com o namorado para a Parada Gay e um grupo de amigos. Foi a primeira vez que ela acompanhou o evento

– Não preciso ser homossexual para defender a diversidade. Essa é uma questão que devia movimentar todas as pessoas. Mas infelizmente não é assim. A gente ainda vê muito ódio contra quem é diferente, principalmente na internet.

O empresário Samario Samuel, de 28 anos, fez uma fantasia inspirada no carnaval para a parada. Assim como pessoas vestidas de Marilyn Monroe, Chaves, Malévola, borboleta, foi assediado para tirar fotos com participantes da passeata:

– A gente tem que lutar pela causa, com muita alegria, mas sem bagunça, sem preconceito.

A estilista Karol Della Lastra, de 49 anos, lembrou que os transexuais também são agredidos:

– É importante dar visibilidade contra a homotransfomobia (contra gays e transexuais)

Ao longo do percurso era comum ver vendedores de bebidas alcoólicas, como cerveja, vinho, tequila, vodka e até drinks elaborados. Algumas pessoas passaram mal, enquanto outras lotavam os banheiros químicos ou urinavam na rua mesmo. Nos trios elétricos, música eletrônica era o ritmo predominante, embora também fosse possível ouvir funk e axé.

Um grupo de cerca de 20 punks e skinheads anarquistas foi à Parada protestar contra homofobia. “Eu amo homem, amo mulher. Tenho direito de amar quem eu quiser”, gritava o grupo. Alguns evangélicos também foram à Parada Gay protestar contra a homofobia.

Por volta de 18h30, a Polícia Militar arremessou três bombas de efeito moral moral na Rua da Consolação, em frente à Praça Roosevelt. A ação provocou correria já que a via ainda estava ocupada por muitos participantes da parada. O objetivo da ação seria desobstruir a Consolação, já que a dispersão estava marcada para às 18h. Atrás dos policiais estavam diversos carros de limpeza.

ONDA CONSERVADORA ASSUSTA MOVIMENTO LGBT

Como exemplo da onda conservadora na política, foram criticados o projeto de lei que ficou conhecido como “cura gay”, do deputado João Campos (PSDB-GO), que prevê tratamento psicológico a homossexuais, e o projeto que cria o Dia do Orgulho Hétero, de autoria do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Também foram citados comentários homofóbicos publicados nas redes sociais nos últimos dias, após a veiculação de um comercial da marca O Boticário, que mostra casais gays trocando presentes.

— Nos últimos anos temos visto um retrocesso no campo político, colocando em risco tudo o que conquistamos nos últimos anos — disse o presidente da Associação da Parada do Orgulho LGBT, Fernando Quaresma. — Nós ocupamos a Paulista neste dia para pedir igualdade de direitos. Os heterossexuais já têm seus direitos garantidos. Ninguém é agredido por ser hétero. Não precisam de um dia.

A senadora Marta Suplicy, que deixou o PT recentemente, também participou da entrevista coletiva do evento. Ela afirmou que tem enfrentado dificuldade para aprovar emendas ao texto da revisão do Código Penal com o objetivo de incluir a homofobia como crime específico. Apesar disso, ela defendeu o diálogo com essas forças.

— Sem dúvidas está mais difícil [defender causas progressistas]. O Congresso é muito mais conservador. Mas ele reflete a sociedade. Na medida que houve, nos últimos anos, movimento a favor das liberdades individuais, agora há uma reação. Hoje, a onda conservadora é muito forte. Mas temos que conversar, não nos separar. Temos que ver até que ponto podemos caminhar juntos — opinou Marta.

Diretor da associação da Parada, Nelson Matias, criticou o crescimento das bancadas evangélicas e o aparecimento de líderes conservadores que se opõem às pautas dos homossexuais, como os pastores Silas Malafaia e Marco Feliciano (PSC-SP), além de Jair Bolsonaro (PP-RJ).

— Esses políticos já mostraram a que vieram. E nós? Temos que nos juntar para lutar contra isso — sugeriu Matias.

O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), lembrou que a Constituição já prevê que o Estado é laico.

— Fomentar a raiva contra qualquer grupo ofende a nossa Constituição. Temos que ser contra qualquer tipo de intolerância — ressaltou Haddad.

Aberta a militantes LGBT, o prefeito Haddad e o governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) foram cobrados pelos participantes. Haddad foi questionado por cortar verbas da parada e por não receber o movimento. Segundo os organizadores, a verba da prefeitura teve corte de 30%. O prefeito diz que os cortes só afetaram o camarote da Prefeitura, que era pouco utilizado, e uma feira cultural, que foi bancada pelo governo estadual. Ainda segundo Haddad, foram feitas 13 reuniões com o movimento LGBT. Ele se comprometeu a receber o grupo semana que vem.

Já o governador Alckmin foi cobrado sobre uma resposta no caso da travesti Verônica Bolina, que teria sido agredida dentro da carregarem do 2º DP, depois de bater em uma idosa de 73 anos. O governador disse que o caso está sendo apurado. Ele também foi perguntado sobre o investimento do estado para a população LGBT. Ele respondeu que a verba é dividida em várias secretarias.

O evento deste ano não teve a presença da Central Única dos Trabalhadores de São Paulo (CUT-SP), que participa desde o primeiro ano. A central sindical alegou, em nota, que “a Associação da Parada insiste em cobrar taxas abusivas para que as organizações participem do evento” e acrescenta que “a cobrança é ilegal e constava, inclusive, na minuta de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) entre a Prefeitura e a associação”. Para a CUT-SP, os organizadores, que já recebem “milhões de reais em recursos da Prefeitura” tiveram atitude “antidemocrática e autoritária”.

Questionado sobre críticas feitas pela CUT à organização da Parada, Fernando Quaresma afirmou que a central sindical não participa da passeata este ano porque perdeu o prazo de inscrição — e não porque tinha que pagar uma taxa, como foi divulgado.

— Temos uma regra que é receber as inscrições dos participantes até dia 15 de maio. A CUT mandou a inscrição no dia 18. Não podemos abrir exceção para um grupo — explicou Quaresma.

Questionado sobre críticas feitas pela CUT à organização da Parada, Fernando Quaresma afirmou que a central sindical não participa da passeata este ano porque perdeu o prazo de inscrição — e não porque tinha que pagar uma taxa, como foi divulgado.

— Temos uma regra que é receber as inscrições dos participantes até dia 15 de maio. A CUT mandou a inscrição no dia 18. Não podemos abrir exceção para um grupo — explicou Quaresma.

O globo

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