Esportes

Mandos e desmandos – as vantagens de jogar em casa na Série A

Recentemente foi promulgado Projeto de Lei 2336/21, a chamada Lei do Mandante, que altera os direitos de transmissão televisiva. Agora, eles pertencerão apenas ao time da casa que, dependendo de seu desempenho e poder de negociação, pode conseguir melhores contratos. A justificativa para a alteração das regras foi criar maior competitividade no setor. Os próximos anos dirão se funcionou ou não. Mas, para além da TV, qual é a real importância do mando de campo?

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Ser mandante de uma partida é, em teoria, uma vantagem. Mas, na prática, é muito relativo. Olhando um site de apostas esportivas, é possível ver que nem sempre o time da casa é o favorito, pois há diversos outros fatores envolvidos. O primeiro, e mais óbvio, é a diferença técnica entre as equipes. Na Série A, há alguns times de elite, com orçamentos gordos, grandes torcidas e uma boa organização. E há os ‘primos pobres’, times sem tanta expressão, e orçamento muito mais modesto. Um embate entre estes dois tende a resultar em vitória do primeiro – seja qual for a arena. Porém…


Alguns clubes menores se apoiam em seus campos – e em alguns esquemas – para tentar equilibras as contendas. Grama mais alta, superfície desigual e até gandulas que misteriosamente desaparecem são alguns dos expedientes utilizados, às vezes além do razoável.

O técnico Abel Ferreira, do Palmeiras, fez duras críticas ao gramado do estádio Ilha do Retiro, mesmo após vencer uma partida. O português culpou o terreno fofo e irregular pelas lesões de dois de seus jogadores. E acrescentou que o palco ruim atrapalha o espetáculo chamado futebol.

Abel tem razão, há que se exigir um padrão mínimo nos estádios, a fim de permitir uma competição justa. O valor de ser mandante deve residir, sobretudo, no conhecimento do campo, do hábito de jogar ali e principalmente no apoio de sua torcida. E esse último ponto é outro tema de discussão.

Por um ano e meio, a torcida pouco pôde ajudar o time mandante, por estar compulsoriamente ausente.  Restaram apenas as gravações comandadas por DJs que, francamente, só servem para disfarçar a desolação de um estádio vazio. Com a paulatina volta dos fãs, espera-se um impulso extra para os mandantes, vindo das arquibancadas.

Mas alguns clubes, financeiramente pressionados, costumam querer mandar seus jogos em outras praças, especialmente quando nelas conseguem atrair as carteiras dos torcedores de um time de massa. Por que se contentar com um estádio de 15.000 lugares, se é possível lotar um de 50 mil com a torcida adversária?

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Essa situação é praticamente uma inversão de mando de campo. O time mandante joga em um estádio desconhecido, com o qual não está acostumado, com sua torcida em inferioridade numérica. A pouca vantagem que o mando daria a um time inferior evapora – ainda que seu caixa se reforce.

Do ponto de vista da competição, a ‘venda de mando’ quebra a isonomia do certame, na medida em que um clube tem mais facilidade contra um determinado adversário, em comparação a um outro concorrente ao título, obrigado a jogar em um estádio mais acanhado. A CBF tem regras específicas para impedir a venda de mando que, contudo, não são tão claras a ponto de serem inequívocas. E onde há interpretação, há uma oportunidade.

Diante de tantos fatores, alguns números podem ajudar. Segundo as estatísticas do primeiro turno do Brasileirão de 2021, os mandantes tinham um aproveitamento de apenas 49% dos pontos disputados. Esse é o percentual mais baixo em toda a história dos pontos corridos. Talvez haja aqui uma distorção séria, causada pela ausência de torcida. Ou talvez jogar em casa não seja mais o que costumava ser. Entre mandos e desmandos, o segundo turno vem aí. E com ele, as respostas.

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