Justiça

Investigação ligada à Lava Jato, sem querer, chegou em Fabrício Queiroz

A investigação sobre as movimentações financeiras suspeitas de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, começou em 2018, quase sem querer, após uma apuração ligada à Operação Lava Jato. 

Naquele ano, o Coaf (Centro de Controle de Atividades Financeiras) fazia um rastreamento de contas para a operação quando descobriu transferências estranhas, que chegavam a R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017 e se mostravam incompatíveis com o patrimônio de Queiroz, assessor e motorista no gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro).

Observando outras movimentações de assessores de Flávio Bolsonaro, o órgão suspeitou então que havia a prática das chamadas rachadinhas, segundo a qual funcionários repassavam dinheiro ao assessor para que ele encaminhasse o valor ao então deputado estadual.

Como não havia indícios de que o caso estava ligado à Lava Jato, o relatório foi encaminhado ao MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) em 3 de janeiro de 2018.

O MP fez outras diligências, comprovou as práticas suspeitas, com depósitos a Queiroz coincidentemente feitos em dias próximos ao do pagamento na Assembleia, e a investigação sobre Queiroz foi aberta oficialmente em 30 de julho de 2018.

Desde então, o caso sofreu vários ataques, por parte da defesa de Flávio Bolsonaro, que busca a todo custo cessar a investigação. O hoje senador chegou a ir ao STF (Supremo Tribunal Federal) pedindo a anulação das provas do processo. A Corte negou o pedido.

O inquérito segue no MP do Rio e é tocado pela Promotoria de Justiça de Investigação Penal. Há também uma investigação cível que apura possível improbidade administrativa.

Em um único mês, de junho a julho de 2017, Flávio recebeu R$ 96 mil em depósitos fracionados em dinheiro vivo, O relatório encontrou 48 depósitos em espécie, todos feitos no caixa eletrônico da Alerj.

O Coaf também apontou um cheque de R$ 24 mil de Queiroz para a atual primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

O presidente Jair Bolsonaro afirma que o cheque era o pagamento de uma dívida de Queiroz com ele no valor de R$ 40 mil, que, no entanto, não foi declarada no Imposto de Renda.

O senador Flávio Bolsonaro diz que os R$ 96 mil foram pagamento pela venda de um imóvel e que os depósitos foram fracionados porque o caixa eletrônico tinha como limite R$ 2 mil em cada operação.

Queiroz sempre afirmou que negócios particulares explicavam sua renda mais alta que os vencimentos como assessor. Mais tarde, afirmou ao MP que entre suas funções estava também o gerenciamento dos salários recebidos pelos funcionários do filho do presidente. 

Em 2019, Queiroz faltou quatro vezes às tentativas do MP de ouvi-lo. Ele ficou internado em um hospital na capital paulista alegando problemas médicos. Sua mulher e sua filha também faltaram quando foram chamadas para testemunhar.

Em seu depoimento por escrito, Queiroz confirmou que os funcionários do gabinete repassavam parte dos salários para sua conta, mas disse que o objetivo era contratar com esse dinheiro mais funcionários para trabalhar com o intuito de “intensificar a atuação política” do então deputado estadual.

O MP também já tentou ouvir Flávio Bolsonaro, mas o senador, dizendo não ter tido acesso ao conteúdo das investigações, não compareceu.

Com base na análise dos dados do Coaf, o MP abriu 22 investigações contra funcionários e ex-funcionários da Alerj. Todas relacionadas a movimentações bancárias suspeitas.

O Ministério Público Federal também abriu neste ano uma investigação contra Flávio Bolsonaro apurando um suposto vazamento da operação, que corria em segredo de Justiça, no final de 2018. |R7

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