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Filmes e séries com temática de suicídio e depressão são potencialmente perigosos em tempos de isolamento social, aponta filósofo e psicanalista

O filósofo e psicanalista Fabiano de Abreu aborda o tema sob a ótica dos nossos dias em meio à pandemia e o isolamento social. É preciso falar sobre depressão e o suicídio de forma responsável para evitar o aumento de casos.

Em meio à pandemia e em uma situação onde pouco ainda se sabe sobre o novo coronavírus, apesar de todos os casos de milhões de pessoas que já foram infectadas, o desespero, angústia até mesmo a depressão e o desejo de suicídio podem bater à porta daqueles que se sentem massacrados pela pressão das notícias ruins. 

Recentemente o filósofo, neuropsicanalista, neurocientista e especialista em estudos da mente humana Fabiano de Abreu, em entrevista à revista Rolling Stone, abordou o tema e considerou que principalmente neste momento difícil que o mundo inteiro vive é preciso voltarmos a nossa atenção às consequências da quarentena para o indivíduo e a sociedade. 

Segundo Abreu, casos de suicídio e depressão tendem a aumentar em períodos longos de confinamento e até mesmo podem ser incentivados de maneira errônea se não forem observadas as devidas precauções ao tratarmos do tema. Séries como 13 Reasons Why também foram mencionadas pelo filósofo. Confira alguns trechos da entrevista:

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Qual a importância de falarmos sobre temas como depressão e suicídio nos dias de hoje?

Para mim, a importância maior é como falar desses temas. Gosto de falar do que antecede o limite, já que o limite é o fim. Ansiedade, tristeza, depressão, etc. A depressão é um abismo cujo a identidade pode estar em fatores genéticos e/ou hormonais, como resultado de acontecimentos. Temos que ter muito cuidado neste tipo de tema para não incentivar o ato, pois o ato pode ser impulsivo, impensável e é sem volta. 

Séries como 13 Reasons Why (que teve impacto no número de suicídio nos Estados Unidos) podem influenciar jovens em situação de risco?

Sim, as estatísticas nos Estados Unidos comprovaram isso. Gosto de dizer que a história, a estatística é o argumento da razão. Filmes sobre suicídio deveriam ser fiscalizados pelo ministério da saúde e também adequar melhor a classificação da idade. 

Falar sobre suicídio pode ajudar a contornar esse problema de saúde pública?

A questão não é falar sobre o suicídio mas como falar. É necessário cortar o mal pela raiz, falar do que antecede a depressão e procurar encontrar soluções e ajuda para evitar que chegue no ponto mais grave. 

Nossa cultura tende a romantizar o suicídio? Como retratar transtornos mentais de forma responsável na televisão?

O suicídio é uma fraqueza, é a falta de capacidade de resolver suas pendências deixando chegar na depressão. Não há nada de romântico nisso. Foi culpa de Shakespeare essa introdução cultural. Tem o fato também do impacto emocional já que a morte é sempre impactante, ainda mais quando se tira a própria vida. Eu parto sempre do princípio da consciência racional de que; não vale a pena tirar a própria vida pois a dor de quem fica logo passa e depois tudo será esquecido. Se quer chamar a atenção, viva muito e faça coisas boas para que tenha a atenção de todos. Também há a lógica de que todo momento ruim passa, a vida é um ciclo e tudo sempre passa. 

Os transtornos, síndromes e qualquer comportamento que nos retire o equilíbrio e o bem estar deve ser tratado com orientação de profissionais de saúde. 

Filmes que tratam do assunto da depressão e do suicídio como o ‘Vendedor de Sonhos’ da Netflix ficaram entre os mais assistidos da plataforma. Que mensagem isto passa?

Eu acho isso muito perigoso! Qualquer filme sobre suicídio hoje em dia é perigoso justamente em um momento em que muitos estão com depressão. 

Por exemplo, no filme, o personagem por não conseguir “salvar” o filho dele, se sente impotente e tenta suicídio. No fim, o filho dele também tenta se suicidar e os papéis são invertidos, o próprio pai o tira daquela situação. Devido ao filho tentar se matar, a dor da possibilidade foi um espelho para a própria dor.

Já pensou se alguém tenta o suicídio se espelhando no filme para chamar a atenção do pai? Tentativa se dá por erros e acertos. Tentar é agir para conseguir, então, a pessoa pode conseguir tirar a própria vida para chamar a atenção. A pessoa pode chamar a atenção por tentar, mas também por conseguir. Isso não seria um incentivo? 

De que forma a televisão e a mídia podem ser eficaz nos debates sobre saúde mental e fazer com que pessoas em situação de risco procurem ajuda?

Como disse anteriormente, os profissionais da área devem ser consultados. Não há conhecimento superficial de temas relacionados à mente. Cada transtorno, síndrome, comportamento, tem um motivo, uma raiz, algo que está na memória, no cérebro. E isso não se avalia através de um cognitivo e sim através de um amplo conhecimento. Na matemática só precisamos achar o resultado. Mas na mente, os comportamentos são como dízimas periódicas sem um única lógica. São muitos fatores que levam a um comportamento.

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