Cidades

Facção BDM domina Cajazeiras e espalha o medo entre a população

Alvo de operação da PF, líder do BDM está foragido

facçao bdm
(Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO)

As letras BDM espalhadas nos quatro cantos de Cajazeiras são sinônimo do medo que domina a região.  Em muros, postes, pontos de ônibus, garagens, casas e até em igreja está  a inscrição que carrega não só o significado de uma das maiores facções do estado, o Bonde do Maluco (BDM), mas também é sinônimo de crimes com requintes de crueldade, como o do músico e compositor Felipe Yves Magalhães Gomes, 21, morto na última segunda-feira, na Boca da Mata, área de domínio da facção BDM. Ele foi baleado e degolado.

Segundo fontes ligadas à Secretaria da Segurança Pública (SSP), o BDM surgiu entre os pavilhões do Presídio Salvador, no complexo prisional da Mata Escura, como  ramificação da facção Caveira, comandada por Genilson Lima da Silva, o Perna, hoje preso no Presídio Federal de Catanduva, no Paraná. A facção  foi formada no início de 2015, no pavilhão V. A intenção era ampliar a área de atuação dos caveiras em alguns pontos estratégicos do tráfico de Salvador, como Subúrbio e Cajazeiras, e principalmente na Região Metropolitana.

No entanto, houve um racha e uma parte do grupo mais agressiva ficou sob o comando de José Francisco Lumes, o Zé de Lessa, procurado pelas polícias Civil, Militar e Federal. Com a divisão, o BDM, que goza do privilégio de ter como fornecedor de armas e drogas o Primeiro Comando da Capital (PCC) – que também abastece outras facções do estado – se estabeleceu em Cajazeiras.

A expansão começou por Cajazeiras X onde, hoje, remanescentes do bando do traficante MC são BDM – MC morreu em confronto com a polícia ano passado. Ele atuava na Curva do Boi.

Domínio
Em março do ano passado, o CORREIO publicou uma matéria mostrando que o BDM chegou à localidade um mês antes. Postes, muros, garagens foram pichados com a sigla BDM. Algumas inscrições vinham acompanhadas de “Tudo 3” – um código que surgiu no sistema prisional e que faz referência à facção Caveira.

Como o BDM sempre está bem armado, com fuzis, metralhadoras, submetralhadoras, as quadrilhas não têm outra alternativa a não ser se juntarem à facção ou são dizimadas. Foi o que aconteceu com o traficante Zeca, líder do BDM em Jaguaripe. Há anos ele reinava sozinho no comando de um grupo independente.

“Foi algo inesperado. Um dia ele dormiu no comando. No dia seguinte, recebeu uma mensagem que um bonde bem armado invadiria seu espaço, caso não se aliasse. Ele não pensou duas vezes e hoje o BDZ, Bonde do Zeca, é uma ramificação do BDM”, declarou a fonte.

A situação foi um pouco diferente em Cajazeiras III. O traficante Gago, vindo da  Gamboa de Baixo, chegou a relutar antes de se aliar à facção. “Ele perdeu muito do seu exército quando insistiu em continuar na total liderança. A população ficava apavorada. Houve baixa não só do lado dele, mas também de inocentes. Foi quase um mês de resistência, até Gago enxergar que não havia saída”, disse a fonte. Hoje, Cajazeiras III é BDG, Bonde do Gago, filial da BDM.

Em Cajazeiras XI, na localidade de Sítio Isabel, o comando é do traficante Piti, que também passou a integrar o BMD. Outras duas localidades também sob a regência da fação no bairro são o Loteamento Santo Antônio e o Ponto XI.

Já em Cajazeiras IX, o traficante Igor controla as bocas de fumo sob os olhos atentos da facção. Na Fazenda Grande III, o BMD é representado por remanescentes do bando de Chiquinho, morto pela polícia em 2016.

No bairro  de Fazenda Grande IV a liderança do BMD está em mãos de Negona. “Depois que o companheiro dela foi morto pela polícia, ela tomou a frente do negócio e foi esperta. O grupo já estava fraco. Então, ela se aliou e se fortaleceu com armas e drogas”, disse a fonte.

Segundo a Polícia Civil, o Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco) não faz distinção de facções no enfrentamento aos criminosos. Ainda segundo a assessoria, as operações do Draco contra as facções acontecem, muitas vezes, em parceria com o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e variam de caso a caso.

Medo
Moradores de Cajazeiras andam apavorados. “Para onde a gente olha tem a sigla BDM. Hora e outra a gente fica sabendo que alguém morreu porque esses caras querem dominar tudo”, disse a vendedora ambulante Márcia dos Santos Souza, 30 anos, moradora de Cajazeiras III. “Isso é fruto do crime se organizando às sobras do Estado. Eles estão copiando as atuações de outras organizações criminosas do país, como o PCC, e implantando o terror na Bahia. Passo a maior parte  do meu tempo no trabalho ou em casa”, declarou o funcionário público estadual Marivaldo Antunes, 43, morador de Cajazeiras III.

Em Cajazeiras XI, as opiniões não são diferentes. “Enquanto não há segurança de vida, a marginalidade vai dominar. É o que acontece. Qualquer lugar que se olhe aqui tem pichado BDM”, disse o professor Evaldo de Brito, 51 anos. A mulher dele, a cabeleireira Maria da Conceição de Brito, 49, passou a fechar o salão mais cedo. “Eles trocam tiros a qualquer hora do dia. Às 18h já estou encerrando o atendimento, inclusive nos sábados. Não quero uma tragédia”.

O alvo principal da Operação Sapucaia,  que a Polícia Federal realizou em abril de 2016 na Bahia e no Mato Grosso do Sul para cumprimento de 13 mandados de prisão, continua foragido. Trata-se de José Francisco Lumes, o Zé de Lessa, apontado como um dos líderes da facção Bonde do Maluco (BDM). Ele é o três de ouros do Baralho do Crime da Secretaria da Segurança Pública (SSP/BA), que reúne os principais criminosos do estado.

Zé de Lessa foi caçado em Mato Grosso do Sul, na fronteira com o Paraguai.  O alvo da operação é apontado pela polícia como o maior fornecedor de drogas da capital e do interior, com especialidade em assalto a bancos e carros fortes.

Ele começou na vida do crime praticando assalto a bancos. Foi preso algumas vezes e a última vez que saiu da prisão foi para terminar de cumprir a pena no regime domiciliar. Foi morar em Coronel Sapucaia, no Mato Grosso do Sul, divisa com o Paraguai, de onde começou a enviar carregamentos de drogas para abastecer sua quadrilha na Bahia. Ele criou o Bonde do Maluco dentro da cadeia e logo sua facção passou a ganhar destaque. Tornou-se o principal rival da facção Katiara, comandada por Roceirinho, e passou a disputar pontos de droga com o rival. As informações são do Correio24h

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