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A estreita relação que Dilma quer esconder

DILMA E CERVERONa noite de 18 de abril de 2008, o casamento da filha única da presidente afastada Dilma Rousseff direcionou os holofotes da fama e do glamour para Porto Alegre (RS), onde ocorreu a cerimônia que oficializou o matrimônio de Paula Rousseff Araújo e Rafael Covolo. Com a ajuda da então ministra da Casa Civil, os noivos escolheram cuidadosamente a lista de convidados. Só os mais íntimos tiveram esse privilégio. A relação de nomes continha familiares, amigos próximos, alguns ministros e o ex-presidente Lula. Entre os escolhidos da noiva, obviamente a pedido da mãe, estava Nestor Cerveró. Aquele que, oito anos mais tarde, Dilma renegaria, desmentindo que haviam mantido uma relação de amizade por 15 anos.

A negativa de Dilma aconteceu após a divulgação do teor da delação do ex-diretor da área Internacional da Petrobrás na quinta-feira 2, quando o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, retirou o sigilo do processo a pedido do Procurador-Geral da República. Em depoimento gravado, Cerveró afirmou que a presidente afastada sabia da propina na compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, negócio que causou prejuízo aos cofres da Petrobras de US$ 792 milhões. “A refinaria (Pasadena) foi discutida com Dilma”, garantiu ele durante as declarações prestadas na sede da Polícia Federal no Paraná. Em reação irritadiça, Dilma divulgou nota à imprensa afirmando que “jamais manteve relação de amizade com o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, embora o conhecesse devido ao cargo que ocupava”. Obviamente, uma falácia. Em entrevista à ISTOÉ, a advogada do ex-diretor da estatal Alessi Cristina Brandão afirmou que Cerveró conhece Dilma desde à época em que ela era secretária de Minas e Energia do governo Rio Grande do Sul em 1999. Alessi confirmou que seu cliente foi um dos convidados para o casamento da filha única de Dilma Rousseff. Ela só não soube dizer por que ele não compareceu.

Nestor Cerveró era apenas um dos gerentes da Diretoria de Óleo e Gás da estatal quando foi apresentado à presidente afastada. O diretor era o ex-senador Delcídio Amaral. Nestor, como era conhecido pelos colegas da estatal, disse em sua delação que teve várias reuniões com Dilma e Delcídio à época.

DATA

Para demonstrar a proximidade com a presidente afastada, o ex-diretor contou detalhes da relação de amizade. “Eu viajei com a Dilma. Eu chamava ela de Dilma antes de ela ser presidente. Não é por arrogância nem nada. Eu conheci ela como secretária de estado. Não ia chamar de doutora. E ela me chamava de Cerveró. Não sei por quê, porque meu nome é Nestor. Eu, na Petrobras, sou conhecido como Nestor”, detalhou ele. Em 2003, o vínculo com Dilma ficou mais forte: ela foi empossada como ministra de Minas e Energia do governo Lula. Segundo Cerveró, os dois passaram a se encontrar frequentemente em viagens oficiais.

Aos procuradores, Cerveró contou que o processo de compra da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), foi iniciado em 2006. Dilma, àquela altura, já havia sido promovida a ministra-chefe da Casa Civil do governo petista. Além disso, ocupava o cargo de presidente do Conselho de Administração da estatal. Cerveró afirma que o objetivo da Petrobras era fazer uma revitalização do empreendimento. “Tratei pessoalmente da compra da refinaria com a Dilma”, disse o ex-diretor.

O desempenho no esquema de pagamento de propina a aliados do governo com recursos da Petrobras fez com que ele gozasse da simpatia de outros líderes petistas. Um deles seria o próprio Lula. Em 2008, o petista teria determinado a transferência de Cerveró para Diretoria da BR Distribuidora. A promoção ocorreu por Cerveró ter ajudado a quitar uma dívida de R$ 60 milhões do PT com o Banco Schain.

A relação entre Dilma e Cerveró se deterioraria em 2014, com publicidade da compra da refinaria de Pasadena. A então presidente Dilma Rousseff apontou Cerveró como responsável pelo o que classificou como “erro” que a levou aprovar a compra da refinaria e acabou o exonerando. No ano seguinte, Cerveró foi preso pela PF ao desembarcar no Galeão.

12Abandonado e condenado a doze anos de prisão, ele sucumbiu ao acordo de delação premiada, em troca de redução de pena. Em comum, entre os dois, o infortúnio. Cerveró continua preso, enquanto Dilma se defende do processo de impeachment no Senado.

IstoÉ

 

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