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Com drogas vindas do exterior, fornecedor da facção Katiara é o mesmo do PCC; entenda o caso

presos katiaraA ligação entre a facção Katiara e o PCC (Primeiro Comando da Capital) vai além de a quadrilha comandada por Roceirinho inspirar-se na facção paulista para criar o seu código de conduta, batizado de Estatuto da Katiara. As duas organizações criminosas têm o mesmo fornecedor de drogas, conhecido como Alemão, responsável pela negociação direta com traficantes do Mato Grosso do Sul e Paraná, estados que fazem fronteira com o Paraguai e Bolívia, produtores de maconha e cocaína, respectivamente.
A informação é da Polícia Federal, que  na terça-feira cumpriu dez mandados de prisão preventiva por tráfico de drogas e associação por tráfico em Salvador, Serrinha, Nazaré, Feira de Santana e Mirandópolis (SP).
Entre os mandados cumpridos, um deles foi contra o líder da Katiara, o traficante Roceirinho, que está custodiado no Presídio de Serrinha. “Quando ainda estava no Complexo da Mata Escura, ele dava as ordens tranquilamente através do uso de celulares. Com a autorização da Justiça, interceptamos as ligações e constatamos várias conversas com Alemão”, explicou ontem o delegado Leonardo Almeida Rodrigues, da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) da PF.
“Em sua defesa, Roceirinho disse que deixou o tráfico em 2013 e que pessoas usam o nome dele para se promover e que veio para Salvador trabalhar como açougueiro em Valéria, onde vivem seus pais”, disse o delegado, que interrogou o líder da Katiara dentro do presídio de Serrinha.Também foi presa na operação a mulher de Roceirinho, Ana Carla Ferreira, 26 anos, que estava em prisão domiciliar em Nazaré, no Recôncavo. Alemão,  que já cumpria pena em presídio em Mirandópolis (SP), responderá, agora, por mais um processo por tráfico de drogas.
Os mandados foram cumpridos também em Salvador – cinco no total, dos quais três foram no Complexo Penitenciário da Mata Escura, um no Barbalho e outro em Itapuã. Os policiais federais estiveram também em Feira de Santana, onde duas pessoas foram capturadas. “Só teve mandado de prisão de gerente para cima, pessoas de confiança, que viajam para finalizar a compra das drogas”, declarou o delegado Leonardo Almeida.
Logística
No caso específico da Katiara, o delegado Leonardo disse que uma pessoa de confiança de Roceirinho viajava a São Paulo exclusivamente para pagar integralmente Alemão, em local não informado pela PF. De posse do dinheiro, Alemão encomendava a carga a traficantes do Mato Grosso Sul e Paraná, que, por sua vez, faziam a compra com organizações do narcotráfico do Paraguai e da Bolívia.
 “Alemão é o cara que comprava a droga que vinha das fronteiras e revendia para Katiara, PCC e outras facções do país”, explicou o delegado.
Ainda segundo a Polícia Federal, a carga chega à Bahia em carros e vai direto para as cidades de São Sebastião do Passé e Alagoinhas, onde ficam armazenadas em fazendas e sítios. Depois de um período, a carga é transportada para os bairros de Valéria e Palestina, onde, segundo o delegado, ficam os centros de distribuição da quadrilha em Salvador e no Recôncavo.
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Estatuto
A Polícia Federal começou a investigar a Katiara em 2013 com a Operação Tríade.
Entre 2013 e 2014, a PF aprendeu da facção 2,5 toneladas de maconha e 513 kg de cocaína, um montante estimado em R$ 52 milhões. “Acredito que foi um golpe duro na organização criminosa”, declarou o delegado Leonardo Almeida Rodrigues, da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) da PF.
Para o delegado Leonardo Almeida Rodrigues, a Katiara está longe de ser uma simples quadrilha de traficantes, mas sim “uma cópia quase do PCC. Uma prova disso é o Estatuto da Katiara, divulgado pela imprensa”, disse o delegado, referindo-se à matéria do CORREIO, que, no dia 2 de agosto  divulgou com exclusividade o documento da facção, inspirado nos moldes do PCC (veja alguns trechos do documento abaixo)
 “É um grupo muito bem organizado. Tem seus chefes, pessoas mais próximas ao líder da facção que pede conselhos de como agir, que administram os negócios. Tem os gerentes, pessoas que distribuem as drogas para ele (Roceirinho). São esses que viajam para finalizar o acerto com Alemão e contratam alguém para trazer a carga de lá para a Bahia. Além disso, tem os soldados, moradores dos bairros que fazem a segurança das bocas”, emendou o delegado.
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Hierarquia familiar
Segundo o delegado, no topo da pirâmide está Roceirinho. Depois dele, um irmão, Fernando de Jesus Lima, o Ojuara. “Tem muita gente da família envolvida. O irmão dele é o segundo no comando, que controlava todas as ações em Salvador”, disse. Na mesma função de Ojurara, Alan Santos Fonseca, o Junior Pial, ou JP, respondia pelas bocas de fumo de Nazaré e o restante do Recôncavo.
Os dois foram presos em dezembro do ano passado, quando foram flagrados a bordo de um veículo, na região do Retiro, com uma pistola Glock automática, de calibre ponto 40, com dois carregadores municiados. Na época, a polícia apurou que “JP” e “Ojuara” ordenaram os ataques aos ônibus em Valéria, ainda em dezembro, depois que um comparsa traficante teria sido morto numa troca de tiros com policiais militares.
No último dia 23, o portal mostrou que, em Nazaré, a Katiara usa  métodos de tortura que incluem deixar rivais e devedores amarrados no mangue, feridos, sem comer, expostos a insetos e caranguejos.
O delegado Leonardo Almeida disse que, durante as investigações da Polícia Federal, também obteve relatos sobre as práticas. “A organização criminosa tentava manter a hegemonia no local e tivemos vários informes que houve torturas de inimigos e muitas mortes”, disse.
O mangue funcionava como um tribunal do júri.  Moradores relataram que,  à noite,  ouvem, vindos do mangue, gritos e gemidos de vítimas da facção sendo espancadas. Depois, elas são deixadas amarradas, por dias, com os ferimentos  expostos a insetos e caranguejos. Para a foz do Rio Jaguaripe, entre os bairros Apaga Fogo e  Muritiba, são levados devedores e quem desobedece as regras da facção. Aqueles que devem muito não têm segunda chance e são mortos de imediato.
Depois de julgadas por uma comissão, formada pelo gerente da boca e comparsas, as vítimas são agredidas e amarradas. No caso de dívida de droga, aguarda-se o pagamento do montante devido pela família. A intenção dos bandidos é fazer com que os parentes quitem as dívidas, mas a maioria acaba morrendo e os corpos são despejados no mangue. A outra forma de tortura é  arrastar as vítimas na rua e, depois, jogar os corpos nas casas das famílias.
Comandante da 3ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM/Nazaré), o  capitão Maurício Costa contou que integrantes da própria Katiara já foram amarrados no mangue.  “O chefe deles mandou amarrá-los como castigo. Já encontramos um tronco com corda”, disse à reportagem.
Na semana passada, uma operação das polícias Civil e Militar efetuou dez prisões na região. As informações são do Correio

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