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Caso de policial reacende debate sobre suicídio

Fabiana Nery
Foto: Fabiana Nery

Observar, falar, ouvir, buscar ajuda. Estas são algumas ações que podem contribuir para prevenir o suicídio, que na maior parte dos casos está associado a um distúrbio mental. Ontem, a notícia do suicídio de um policial militar em Salvador despertou, mais uma vez, o alerta para a necessidade de se falar sobre o tema de forma responsável e esclarecedora.

Informações preliminares apontam que o policial teria um diagnóstico de depressão, uma das patologias que está mais associada ao suicídio, como pontua o psiquiatra da clínica Holiste, Victor Pablo da Silveira. Ele destaca que mais de 80% dos casos ocorre em pessoas que têm sintomas de depressão maior.

“O cotidiano de uma pessoa com potencial suicida pode ou não estar associado a gestos de negligência com a própria saúde, queda da produtividade, isolamento social, exposição a situações de risco e precariedade na qualidade de vida. Muitas vezes a ocorrência de alguma adversidade ou mudança de vida pode funcionar como gatilho para o impulso”, completa o psiquiatra da Holiste.

Fabiana Nery, também psiquiatra da clínica, salienta que cerca de 80% das pessoas que se matam costumam dar algum aviso, normalmente não percebido, por não se tratarem de frases diretas, mas sim de discursos como “não tenho mais vontade de fazer nada”, “se eu tivesse uma doença e morresse seria melhor”, entre outros. Além disso, comportamentos como a desistência de planos e sonhos, isolamento, a falta de esperança e crenças são sinais de alerta.

“Há um estudo que mostra que 50% das pessoas que se matam passaram por um médico no mês anterior ao suicídio. Isso mostra que mesmo nós, profissionais de saúde, precisamos estar atentos a esses diálogos e comportamentos. O comportamento suicida não começa no dia em que o ato ocorre, ele começa muito antes e vai crescendo gradualmente. Ele começa com uma ideia de morte e vai evoluindo para desejo, motivo, intenção, plano, tentativa, até o suicídio consumado”, acentua Fabiana Nery.

Alguns fatores podem contribuir para que uma pessoa seja mais ou menos sucessível ao suicídio. Existem aqueles que são intrínsecos àquele indivíduo, que compõem sua personalidade, e existem os fatores estressores, que são eventos que funcionam como gatilhos para as crises.

“Temos, por exemplo, a vulnerabilidade genética – se a pessoa tem um familiar de primeiro grau que já se suicidou, ela tem dez vezes mais chance de cometer esse ato. Além disso, as alterações hormonais, de neurotransmissores (como serotonina e adrenalina) e transtornos psiquiátricos são fatores de vulnerabilidade. Os estressores ambientais, como lesões cerebrais, violência na infância, estresse crônico e estresses psicossociais, interagem com os fatores de vulnerabilidade, chegando a provocar o comportamento suicida”, pontua a psiquiatra.

O psicólogo Ueliton Pereira aponta que o estresse no trabalho é um fator que pode desencadear adoecimento mental. Entre os trabalhos mais estressantes estão bombeiros, militares, policiais, jornalistas, altos executivos, médicos, enfermeiros que trabalham em UTI e emergências, economistas e professores.

“Não é o trabalho que causa a doença, mas fatores associados a como a pessoa consegue lidar com o estresse ocasionado por ele. As doenças mentais associadas ao trabalho mais comuns são depressão, transtorno de pânico, ansiedade e síndrome de Bournout”, aponta Ueliton.

Transtornos psiquiátricos e suicídio

Dados apontam que 95% dos casos de suicídio estão associados a um transtorno psiquiátrico. Além disso, a tentativa de suicídio é mais letal no início da doença. Por isso, é importante vencer os tabus que envolvem os transtornos mentais.

“A ideação suicida não é uma escolha, não é um projeto, é um sintoma de uma doença que pode ser tratada e, por consequência, o suicídio será prevenido. Se você tratar o que está levando ao pensamento, a ideia de se matar vai deixar de estar ali. O suicídio é fruto de uma dor psíquica insuportável. O que fazemos no tratamento é mostrar ao paciente que é possível findar aquele sofrimento sem a morte”, alerta a psiquiatra Fabiana Nery.

Setembro Amarelo

A campanha do Setembro Amarelo tem o intuito de auxiliar o trabalho de conscientização e prevenção do suicídio, disseminando a ideia de que é preciso falar sobre o assunto para se disseminar conhecimento e ajudar na prevenção.

“Nos últimos anos, a campanha do Setembro Amarelo vem ganhando visibilidade e força no Brasil. O conhecimento da natureza do suicídio é relevante por ser uma das principais causas de morte e lesões físicas entre jovens. A campanha de prevenção, em diversos países, ajudou pessoas com pensamentos suicidas a serem acolhidas com maior facilidade e teve impacto na redução das mortes juvenis”, pontua o psiquiatra Victor Pablo da Silveira.

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