Cotidiano

Brasileiras reagem com humor e fúria a perfil de Marcela Temer

DF - DILMA/POSSE/TEMER  - POLÍTICA - O vice-presidente Michel Temer (d) e sua esposa Marcela Tedeschi Temer durante cerimônia de posse da presidente Dilma Rousseff realizada no   Palácio do Planalto, em Brasília, neste sábado.    01/01/2011 - Foto: CELSO JUNIOR/AGÊNCIA ESTADO/AE

“Bela, recatada e do lar”, escreveu a ‘Veja’ sobre mulher de Temer. As redes sociais não tardaram a reagir a esta descrição

Marcela Temer já se tinha habituado a ser notícia no Brasil e no mundo de quatro em quatro anos. Primeiro na tomada de posse da dupla Dilma Rousseff-Michel Temer, em 2011, e depois após a reeleição, em 2015. Mas a crise política brasileira levou Temer, o provável futuro presidente, aos cabeçalhos e, mais cedo ou mais tarde, teria de arrastar a ex-Miss de 32 anos, menos 42 do que o marido. A revista Veja, conservadora, de direita e obstinadamente antigoverno, escreveu um perfil de Marcela sob o título “Bela, recatada e do lar”, que motivou uma espécie de ira cômica das mulheres brasileiras.

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O título chegou à liderança dos tópicos da rede social Twitter beneficiando do facto de o país ser o segundo do mundo, atrás dos EUA, com mais acessos à internet mas também refletindo a força do movimento feminista local, considerado o principal acontecimento político de 2015 no Brasil. Centenas de milhares de mulheres publicaram fotos sob o mesmo título – “Bela, recatada e do lar” – em que surgiam em poses ousadas e sensuais, a trocar lâmpadas ou a pregar quadros na parede, em discotecas de copo de whisky ou garrafa de cerveja na mão, entre outras.

Houve quem usasse, ainda sob o título da Veja uma foto do filme Ninfomaníaca, com a protagonista interpretada por Charlotte Gainsbourg nua entre dois homens, uma imagem de Claire Underwood, personagem diabólica da série House of Cards, ou montagem de Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados acusado de corrupção, e a sua mulher, a jornalista Cláudia Cruz, com a inscrição “bela, recatada e dólar”, aludindo aos desvios de dinheiro do deputado que serviram, entre outras coisas, para lhe pagar um curso de ténis na afamada escola de Nick Bolletieri, na Florida.

O movimento Think Olga, um dos mais ativos nos movimentos feministas brasileiros do ano passado, também conhecidos como Primavera das Mulheres, usou uma foto do príncipe Filipe de Inglaterra e as palavras “belo, recatado e do lar”. “E se fosse ao contrário, o que diriam?”, escreveu Juliana de Faria, coordenadora do movimento.

“A matéria da Veja é mais uma cartada dentro da estratégia de direita de criar um discurso conservador que legitime o golpe em curso, além disso é um outro modo de essa revista de ultradireita afrontar as feministas que desde o ano passado denunciam Eduardo Cunha e a sua corja”, disse ao DN Mariana Patrício, professora e ativista brasileira, neta de Rui Patrício, o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros de Marcello Caetano.

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A jornalista Anitta di Ungaro concorda: “A matéria é acima de tudo machista, dá a entender que a mulher deve ser grande mas atrás de um homem, nunca dirigindo o país, é um perfil para opor ao de Dilma, o Brasil é cíclico, às vezes “careta”, outras vezes com mais liberdade mas agora está a ficar “caretaço”.”

Mas, num país que vive em ambiente de guerra fria e declarada entre esquerda e direita, nem só esta última é vista como machista. Houve mulheres a denunciarem as respostas sexistas contra Marcela de homens que defendem Dilma. “São os mesmos que disseram que a Janaína Paschoal estava com falta de homem”, disse a professora Regina no seu perfil, a propósito de um comício em que a advogada, uma das três subscritoras do pedido de impeachment da presidente, se apresentou eufórica.

Outras mulheres sublinharam nas redes sociais que “o que está em causa não é a Marcela é o modelo de mulher que nos querem vender”, lembrando passagens do texto da Veja em que a provável futura primeira-dama é elogiada por usar saias até ao joelho, de ter tido apenas um namorado e Michel Temer é descrito, por isso, “como um homem de sorte”.

A provável primeira-dama do Brasil daqui a um mês é licenciada em Direito mas não exerce a profissão atualmente. É mãe de Michelzinho, que tem 6 anos.

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