Cotidiano

Aluna que tirou 1.000 na redação do Enem conta segredo para conseguir nota

GABRIELA ALMEIDA COSTANo quarto da universitária Gabriela Almeida Costa, 19 anos, há tantos livros que, como costuma dizer, falta até espaço para ela mesma. A rotina de leitura e uma média de duas horas diárias de estudos e treinos de escrita são apontadas por ela como esforços necessários para que seu nome ficasse no seleto grupo de 250 estudantes que tiraram a nota máxima (1.000) na redação da última edição do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “Eu sou a ovelha negra da família (risos). Quando era criança, minha mãe lia para mim toda noite, antes de dormir, até que eu aprendi a ler e comecei a devorar livros sozinha. Meus pais não gostam de ler”, conta a moça, que cursa Geografia na Universidade Federal da Bahia (Ufba). Ela, no entanto, destaca que foi no ensino fundamental que treinou as principais habilidades exigidas no exame, com aulas diárias de português e provas com redação semanalmente, inclusive com a cobrança por temas da atualidade. A rotina de Gabriela é um exemplo do que indicam professores que trabalham na preparação de alunos para o exame. Antes de encarar a folha em branco e as 30 linhas à espera de palavras ordenadas e coerentes para preenchê-las, o candidato precisa dedicar boas horas para ler e escrever conteúdos diversos. “Escrita e leitura andam de mãos dadas. O aluno que lê com frequência tem a chance de escrever melhor”, comenta a professora Helena Vieira, do Colégio Anchieta.Para o professor Zé Silva, do Colégio Vitória-Régia, a dificuldade que os estudantes têm em fazer uma redação de qualidade se dá, muitas vezes, por conta da falta do hábito de ler. “A deficiência acontece porque falta leitura. Não adianta tentar fazer redação se não tem conteúdo, não tem o que escrever”, afirma o professor. Além de aumentar o repertório, a leitura ajuda no aprendizado das normas gramaticais, ao mostrar seu uso prático nos textos. “Se não fosse pela leitura constante, eu teria esquecido boa parte do que aprendi em relação à gramática. Não adianta aprender sem praticar”, afirmou Gabriela.

GABRIELA ALMEIDA COSTA - REDACAONota mil – Treinar a escrita, fazendo redações com frequência, também é importante no processo de preparação. “Se o estudante puder escrever todos os dias, melhor. Que ele faça umas três redações por semana. Quanto mais escreve, mais aprende”, afirma Zé Silva. Depois da preparação, é hora de colocar em prática o conhecimento adquirido nos livros e exercitado nos treinos de texto. Chegado o dia da prova, o candidato precisa estar calmo e atento aos detalhes. O primeiro passo é ler com atenção os textos de apoio, entender o tema e o que está sendo pedido no enunciado. “Primeiro, devem olhar o tema e identificar cada palavra que compõe a frase. O Enem tem uma frase que delimita o que eles devem escrever”, indica o professor Israel Mendonça, do cursinho Gregor Mendel. Com o tema identificado, é fundamental planejar o que será escrito, criando uma espécie de esquema para a construção do texto. “O aluno deve fazer um breve plano de texto: estabelecer a tese, os possíveis argumentos – dois, no mínimo. Na conclusão, deve retomar o tema e apresentar, pelo menos, duas propostas interventivas”, recomenda a professora Helena. Tudo isso, escrito previamente em um rascunho. “Fazer o rascunho é fundamental e não toma tempo se o aluno estiver preparado tecnicamente para isso. A técnica é fundamental”, reforça o professor Israel. “Não se faz a redação apenas pela inspiração”, conclui ele.

Nota zero – Há quatro grupos de situações em que os corretores contratados pelo Inep anulam a redação. O primeiro caso é o do texto que não obedece ao tema proposto ou que não respeita a estrutura textual dissertativa-argumentativa. Leva zero também quem escrever menos de sete linhas – classificado como “texto insuficiente”. Se o estudante copiar trechos dos textos motivacionais, isso não entra na contagem das linhas mínimas para a redação ser corrigida. Não vale também fazer desenhos, afirmações que desrespeitem os diretos fundamentais ou ter somente parte da redação relacionada ao tema. No exame de 2014, 529.373 candidatos tiraram zero na redação (8,5% do total). A fuga ao tema foi o motivo que levou 217.339 candidatos a zerarem. A redação proposta no ano passado, quando Gabriela obteve a nota máxima, teve como tema Publicidade Infantil em questão no Brasil. O assunto pegou muita gente de surpresa – foi difícil de prever. Gabriela conseguiu relacionar o assunto com experiências pessoais. “Eu já tinha certa familiaridade com o tema, porque já fiz curso de modelo e lá o pessoal falava dessa questão do uso de crianças pra vender produtos. A parte que eu falo da propaganda da década de 70 foi minha mãe que contou”, explica (veja a redação ao lado). Gabriela usou informações de dois dos três textos de apoio dados. “Fora a ajuda da minha bagagem sócio-cognitiva, busquei informações nos textos, mas sem copiar”, salienta. Em casa, a nota de Gabriela foi recebida com comemoração. Pelo bom desempenho, ganhou da família um notebook novo e, de quebra, uma vaga na universidade.

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